Se por um lado a tarefa dos serviços secretos não é fácil, por outro o trabalho da contraespionagem pode ser mais difícil ainda. Em uma coleção de épicas operações de inimigos recrutados, a URSS por vezes desinformou americanos e alemães por inúmeras vezes.
Fuga aérea
Durante a Segunda Guerra Mundial, os alemães tinham o comando Abwehr, o serviço de inteligência e contra inteligência militar, em diversas frontes do noroeste da União Soviética.
Seus agentes foram treinados para obter informações sobre as movimentações inimigas e suas formações, realizar atos de sabotagem na retaguarda das linhas soviéticas e matar oficiais.
No entanto, Moscou conseguiu infiltrar no serviço alemão seu próprio agente, Nikolai Andreev, ex-vice-diretor de uma escola da aldeia. Em poucos meses, ele reuniu informações sobre mais de 80 agentes alemães preparados para adentrar os territórios sob controle soviético.
Em uma de suas operações, o agente conseguiu se infiltrar em um campo de prisioneiros de guerra e resgatar o piloto soviético Nikolai Loshakov e de seu parceiro, que trabalhava no aeródromo como frentista.
Durante a ação, ao entardecer, os fugitivos entraram na cabine de um avião Fieseler Fi 156 Storch alemão com tanque cheio. Em seguida, os soviéticos conseguiram decolar e, após três horas de voo, eles já estavam em território soviético.
Telefone estragado
Durante o grande conflito mundial, a contraespionagem soviética usou diferentes formas para desinformar o comando alemão, principalmente através de rádio ao transmitir notícias falsas por meio de transmissores capturados do inimigo.
Em certa ocasião, 70 operações deste tipo foram feitas ao mesmo tempo.
O sucesso foi notório. Mais de 400 agentes dos serviços alemães foram presos, além dos planos estratégicos inimigos terem sido interrompidos.
Unidades alemãs caíram em armadilhas e cercos quando seus comandantes recebiam por via rádio "ordens" que pareciam ser lógicas a princípio.
Operação Berezino
Uma das operações mais bem-sucedidas através do uso do rádio foi a Berezino.
Em agosto de 1944, o tenente-coronel alemão Heinrich Scherhorn, capturado pelos soviéticos, desempenhou o papel de um comandante da mítica unidade militar da Wehrmacht que, junto com 2.000 soldados, lutava nas florestas da Bielorrússia contra o Exército Vermelho sem qualquer ligação com o comando, sofrendo uma aguda escassez de munições, alimentos e medicamentos. Tal lenda inventada pelos soviéticos era acreditada em Berlim.
Na tentativa de ajudar os "soldados em apuros", a Alemanha enviou armamentos, alimentos e dinheiro para Scherhorn via aérea. Ao mesmo tempo, os paraquedistas alemães que faziam parte das missões de suprimento eram presos e alguns eram incorporados à grande encenação.
Berlim acreditou na lenda até o final da guerra, quando Scherhorn recebeu seu último radiograma do comando alemão em 5 de maio de 1945. Nele, Berlim informou que o militar não poderia mais contar com apoio da capital devido à situação do momento.
Caça ao míssil
Ainda durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha impressionou os aliados com o poder de seus mísseis V-2. Com o desfecho da guerra, os engenheiros alemães se tornaram cobiçados tanto pelos EUA como pela URSS.
Em abril de 1945, a contraespionagem soviética descobriu que um grande grupo de engenheiros alemães estava sendo enviado para os EUA, incluindo Helmut Grottrup, um antifascista convicto.
Moscou teve conhecimento sobre o engenheiro a partir de um de seus agentes infiltrados na Polícia alemã. Assim que descoberto o endereço em que Grottrup morava, na zona de ocupação americana na Alemanha, os agentes soviéticos o removeram do local em direção à União Soviética sem grandes esforços.
Após chegar ao país, Grottrup atraiu ao trabalho mais de 150 engenheiros de seu país, entre eles 13 professores e 32 doutores em ciência.
Foi com a ajuda do engenheiro que a URSS construiu o míssil R-1, considerado o pioneiro da era de mísseis soviética.
Túnel secreto
Em 1954, os americanos decidiram escavar em Berlim um túnel que os ligaria aos cabos telefônicos e telegráficos da URSS.
A decisão foi tomada em Londres durante um encontro que contou com a participação de George Blake, um duplo agente britânico e soviético.
Desta forma, Moscou ficou ciente dos planos americanos, mas, ao invés de impedir a operação americana, os soviéticos viram o túnel como uma oportunidade para desinformar o inimigo.
Em 1955 o túnel de 450 metros estava pronto. Logo em seguida os americanos se conectaram às comunicações soviéticas. Pelo menos 667 funcionários nos EUA foram designados para processar as informações extraídas.
No total, 40 mil horas em conversas telefônicas e 6 milhões em comunicação telegráfica foram gravadas. No entanto, Washington não suspeitou que todo o material não se passava de informações falsas.
Em 1956, em uma operação noturna os soviéticos "descobriram" o túnel e condenaram os EUA de violarem o Direito Internacional.
Somente em 1961, após a prisão de Blake, que os americanos descobriram que o túnel já não era mais segredo antes mesmo de ser construído.
Operação Vyunok
Ainda na década de 1970, os EUA iniciaram a operação Vyunok. O objetivo era implantar um aparelho, que pudesse grampear as comunicações transmitidas por um cabo subaquático no mar de Okhotsk, no oceano Pacífico.
O objetivo era saber o máximo possível sobre testes de mísseis intercontinentais da URSS na região russa do Kamchatka.
No entanto, em 1981, os americanos viram por via satélite uma concentração de navios soviéticos no local onde o aparelho espião se encontrava. Logo em seguida, um submarino americano descobriu que o aparelho não estava mais lá.
A razão disso era que Moscou havia percebido a presença de navios espiões americanos na região enquanto se preparava para testar seus mísseis.
Além disso, as coordenadas do equipamento haviam sido passadas à URSS pelo ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional dos EUA, Ronald Pelton.
O aparelho americano acabou se tornando um meio de desinformação contra os EUA.