Documentos secretos da década de 90 revelam 'farsa' do plano para incluir Rússia na OTAN

© Sputnik / Vladimir RodionovPresidentes da Rússia, Boris Yeltsin, se reúne com o primeiro ministro do Reino Unido, John Major, em setembro de 1994
Presidentes da Rússia, Boris Yeltsin, se reúne com o primeiro ministro do Reino Unido, John Major, em setembro de 1994 - Sputnik Brasil
Nos siga no
Documentos revelam discussões no governo do Reino Unido sobre proposta para incluir a Rússia na OTAN, em 1995, durante reunião de gabinete.

Documentos desclassificados revelam que havia vontade política para mudar as relações com a Rússia após o fim da Guerra Fria, e alguns consideravam que a OTAN seria o melhor meio de fazer isso.

Memorando da Secretaria da Defesa, então liderada por Malcolm Rifkind, revelava que a integração da Rússia nas nações europeias era um tema sensível para o gabinete britânico:

"Integrar a Rússia na Europa e na família de nações ocidental de forma realista e consciente é o problema mais difícil que enfrentamos", versa o documento, citado pelo jornal The Independent.

O documento argumentava que integrar a Rússia, então liderada por Boris Yeltsin, como membro da OTAN seria "sempre impossível", uma vez que não seria viável garantir a segurança de Moscou, conforme o artigo 5 da Carta da Aliança.

O artigo 5 dispõe que um ataque a um membro da OTAN seria considerado como um ataque a todos os membros. O documento desclassificado aponta que os britânicos consideravam difícil que a aliança pudesse defender as extensas fronteiras russas.

© Sputnik / Vladimir RodionovPresidente dos EUA, Bill Clinton, se reúne com seu homólogo russo, Boris Yeltsin, em Helsinque, em março de 1997
Documentos secretos da década de 90 revelam 'farsa' do plano para incluir Rússia na OTAN - Sputnik Brasil
Presidente dos EUA, Bill Clinton, se reúne com seu homólogo russo, Boris Yeltsin, em Helsinque, em março de 1997

O memorando sugere então que o Reino Unido proponha a "criação de uma nova categoria de Membro Aliado da OTAN", o que permitiria à Rússia obter um status formal e comparecer às reuniões da aliança militar sem, no entanto, gozar das garantias de segurança do Artigo 5.

Por outro lado, o documento revela que o então chanceler britânico, Ken Clarke, acreditava que a inclusão da Rússia não deveria sequer ser discutida.

"Isso é uma farsa e não deveria nem estar na nossa agenda", teria dito o chanceler.

No entanto, Rifkind concordou que era necessário incluir a Rússia na "família ocidental", por acreditar que, caso contrário, Moscou poderia voltar ao "autoritarismo".

Sancho Pança

O documento ainda revela traços da autoimagem britânica na década de 90. O então primeiro-ministro, John Major, teria usado uma metáfora literária para descrever a posição do Reino Unido nas relações internacionais.

"Nós não perseguimos nossos próprios interesses com a determinação dos EUA ou da França. Nós tendemos a fazer de Sancho Pança para o Dom Quixote dos EUA", teria dito.

A frase é uma referência ao livro clássico de Miguel de Cervantes, Dom Quixote, no qual Sancho Pança desempenha o papel de aliado menor e desprovido de autoridade.

Desde a década de 90, a OTAN passou por um processo de expansão significativo, incluindo países que fazem fronteira com a Rússia, como a Lituânia, Letônia e Estônia, e alguns ex-membros do Pacto de Varsóvia, como a Hungria, Polônia e Romênia.

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала