Após ebulição em 2019, para onde vai a América Latina em 2020?

© Sputnik / Stringer / Acessar o banco de imagensManifestantes durante confronto com Guarda Nacional venezuelana em Altamira, Caracas (imagem de arquivo)
Manifestantes durante confronto com Guarda Nacional venezuelana em Altamira, Caracas (imagem de arquivo) - Sputnik Brasil
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A América Latina foi palco de protestos violentos, transições de poder e insatisfação popular durante o ano de 2019. O continente testemunhou a queda de um presidente e outros quatro foram ameaçados. E em 2020, o que o mundo pode esperar do continente?

A América Latina viveu um de seus anos mais turbulentos na política e na economia não apresentou bons resultados. Dados do banco UBS, divulgados pela revista Exame, mostram que em 2019 o crescimento entre os países latino-americanos foi de apenas 0,5%, a menor taxa entre todas as regiões do mundo.

Estimativas sobre 2020 mostram que o ano que se inicia não será diferente para a economia dos países da América Latina. Segundo dados apresentados pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), a região apresentará um crescimento de apenas 1,3% em 2020.

A CEPAL também informou que a região registra entre 2014 e 2020 a menor taxa de crescimento econômico das últimas sete décadas.

Para Ulisses Ruiz de Gamboa, professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a natureza dos protestos que ocorrem na América Latina está diretamente ligada com as baixas taxas de crescimento econômico.

"Em geral o que a gente nota na América Latina como um todo é uma grande insatisfação por conta da questão da mobilidade social. O discurso dos novos presidentes têm que atender a esse clamor", disse à Sputnik Brasil.

América Latina à espera de decisões do Norte para crescer

Segundo o professor de Economia da ESPM, Leonardo Trevisan, a América Latina depende muito da retomada do crescimento econômico mundial e do fim da guerra comercial entre Estados Unidos e China para retomar o crescimento.

"A resposta para o futuro da América Latina não está do lado debaixo do Equador, lamentavelmente. Se o comércio internacional voltar a aquecer em 2020, se o acordo entre China e Estados Unidos efetivamente sair da fase 1 e ganhar um desenvolvimento [...] para que, em outras palavras, as commodities que a América Latina produz tenham uma volta de preço, nós teremos uma calma", disse à Sputnik Brasil.
© AP Photo / Evan VucciJair Bolsonaro recebe de Donald Trump camisa da seleção norte-americana de futebol, Casa Branca, Washington, 19 de março de 2019
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Jair Bolsonaro recebe de Donald Trump camisa da seleção norte-americana de futebol, Casa Branca, Washington, 19 de março de 2019

Para o professor Maurício Santoro, do departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), nós veremos este ano uma menor influência dos EUA no continente.

"O ano de 2020 é um ano eleitoral nos Estados Unidos, com o Trump tentando uma reeleição ao mesmo tempo em que lida com o processo de impeachment, tudo leva a crer que em 2020 nós vamos ter os Estados Unidos muito voltados para os seus próprios problemas internos", disse à Sputnik Brasil.

Tabuleiro geopolítico latino-americano com caras novas

A América Latina presenciou em 2019 a queda do presidente Evo Morales (Bolívia) e viu outros quatro presidentes serem ameaçados nos seus cargos com grandes manifestações de ruas e ameaças de impeachment: Nicolás Maduro (Venezuela), Lenín Moreno (Equador), Sebastián Piñera (Chile) e Mario Abdo Benítez (Paraguai).

© AFP 2023 / CHARLY DIAZ AZCUEPresidente argentino Alberto Fernández em sua cerimônia de posse com sua vice Cristina Kirchner
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Presidente argentino Alberto Fernández em sua cerimônia de posse com sua vice Cristina Kirchner

Além disso, eleições no Uruguai e na Argentina mostraram uma ruptura de projetos de governo que vinham tendo sucesso na urna nesses dois países. Os argentinos optaram pelo retorno do kirchnerismo ao poder com Alberto Fernández, enquanto os uruguaios votaram no candidato mais à direita, Luiz Lacalle Pou.

Ulisses Ruiz de Gamboa acredita que, mesmo com a vitória de Fernández, o continente latino-americano está testemunhando uma ascensão de forças políticas conservadoras, especialmente na deposição de Evo Morales.

"Nós estamos em uma ascensão em geral da direita, a Argentina é um caso particular, por conta da falta de capacidade do estado de realizar suas funções básicas. A visão é de que é necessária uma redução do estado", projeta.

Onde está Bolsonaro neste cenário político?

Para Maurício Santoro, os planos do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, para a região deram errado em 2019.

"O Bolsonaro começou o seu governo com uma política para a América Latina muito ideológica e muito baseada na concepção de que haveria uma onda conservadora na região. Essa aposta do Bolsonaro em grande medida deu errado. Todos os seus grandes projetos para a América Latina fracassaram em 2020", afirmou o professor.
© Folhapress / Pedro LadeiraO presidente Jair Bolsonaro se reúne com o autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, para entrevista com os jornalistas após reunião no Palácio do Planalto, em Brasília.
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O presidente Jair Bolsonaro se reúne com o autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, para entrevista com os jornalistas após reunião no Palácio do Planalto, em Brasília.

Santoro entende que os outros presidentes da América do Sul, até os ligados às forças conservadoras, querem manter uma certa distância do Bolsonaro.

"Bolsonaro não conseguiu colocar o Guaidó como presidente da Venezuela, a esquerda voltou ao poder na Argentina, o Chile, que despontava como um aliado importante para o Bolsonaro, vive um de seus maiores protestos em 30 anos. Acabou havendo um certo isolamento do Brasil na região e o desejo de muitos presidentes da América do Sul em manter uma certa distância do Bolsonaro", disse.

Já para Leonardo Trevisan, é fundamental para o Brasil a retomada do crescimento econômico na Argentina.

"Se a economia argentina voltar a manter um padrão de crise e não recuperar seu crescimento econômico, 20% das nossas exportações são para a Argentina, evidentemente que se a crise Argentina se agrava a situação no Brasil se agrava também", completou.

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