O técnico do Flamengo é considerado uma das principais testemunhas no julgamento de 44 acusados de agressão, sequestro, vandalismo e terrorismo. O caso ocorreu no dia 15 de maio de 2018, no centro de treinamento do Sporting Clube de Portugal, time que Jorge Jesus comandava na época.
De acordo com a investigação, o grupo, que integrava a torcida organizada Juventude Leonina (Juve Leo), invadiu o CT, na cidade de Alcochete, com muita violência. Imagens das câmeras de circuito interno mostram parte dos atos de vandalismo. Os acusados atiraram rojões e depredaram veículos na área externa, mas foi no interior da unidade que se instalou um cenário de “terror”. Os vestiários foram totalmente depredados e vários jogadores e membros da equipe técnica ficaram feridos, incluindo Jorge Jesus.
"O impacto foi muito grande. Os jogadores foram fisicamente agredidos, os depoimentos são muito fortes. Os jogadores falando que tiveram medo de morrer, gente sangrando, chorando dentro do vestiário. Depois vazaram as imagens, a gente tem imagens do vestiário todo destruído", conta à Sputnik Brasil o jornalista Mamede Filho, editor do canal português SPORT TV, que acompanha o caso desde o início.
O julgamento ocorre no tribunal de Monsanto, em Lisboa, mas Jorge Jesus depôs por videoconferência a partir do tribunal de Almada, cidade da região metropolitana. A medida também foi adotada por outras vítimas. O técnico chegou sozinho, dirigindo o próprio carro. Depois de quatro horas, deixou o local com a advogada e evitou o contato com os repórteres que aguardavam do lado de fora.
De acordo com os jornalistas que acompanharam a videoconferência dentro do tribunal de Monsanto, o técnico contou ter sido agredido com um cinto e também com socos. "Parecia um pelotão de guerra", referiu Jorge Jesus sobre os acusados.
Crise no Sporting
O ataque de 2018 “desencadeou a maior crise da história do Sporting”, diz o jornalista Mamede Filho. Na época, o time vinha em uma boa fase, com Jorge Jesus à frente dos trabalhos desde 2015.
"O time perdeu seus principais jogadores, que pediram rescisão unilateral de contrato, alegando que não tinham segurança para exercer a profissão. O Rui Patrício, goleiro que estava há 10 anos e é o titular da seleção portuguesa saiu, o William Carvalho, volante e também da seleção, o Gelson Martins, considerado a maior revelação do Sporting dos últimos anos saiu. Gerou uma crise institucional gigante. O Bruno de Carvalho foi tirado do cargo, assumiu um novo presidente".
Bruno de Carvalho era o presidente do clube na época e é um dos 44 réus. Para o Ministério Público, ele é o "autor moral" dos ataques. A acusação considera que Carvalho instigou "prática de ações violentas contra os jogadores e a equipe técnica", conforme lê-se no despacho, através de posts críticos que publicou no Facebook depois de algumas derrotas sofridas pelo time.
"Existe a suspeita de que ele teria orquestrado esse ataque para dar uma dura nos jogadores. A própria reação que ele teve depois, pela televisão, foi muito mal vista. A maneira como ele se pronunciou sobre o ataque, sem ser uma condenação muito veemente, causou muita indisposição em relação a ele", analisa o jornalista Mamede Filho.
O advogado de Bruno de Carvalho, Miguel Fonseca, falou com a imprensa nesta segunda-feira (6), depois do depoimento do goleiro Rui Patrício, também por videoconferência. "Até agora não houve dias bons ou maus para a defesa de Bruno de Carvalho. Houve é testemunhas mais e menos rigorosas. O Rui Patrício, na minha opinião, teve lapsos de memória seletiva. Se foi de propósito ou não, não vou dizer", disse o advogado, citado pelo portal O Jogo.
Quem também depôs nesta segunda-feira foi o atual preparador físico do Flamengo, Márcio Sampaio, que na época também fazia parte da equipe do Sporting.
Dos 44 acusados, apenas Nuno Mendes, o "Mustafá", líder da Juventude Leonina, permanece em prisão preventiva.