A fusão do braço comercial da Embraer com a americana Boeing, iniciada em 2018 e avaliada em US$ 4,2 bilhões, no momento está paralisada devido a pedidos feitos pela União Europeia (UE). A unidade militar da companhia brasileira não faz parte do acordo.
Autoridades regulatórias do bloco teriam solicitado 1,5 milhão de páginas com informações e dados de vendas dos últimos 20 anos das duas companhias aéreas. Um desafio e tanto para o novo CEO da Boeing, David Calhoun, que assumiu o posto nesta segunda-feira (13).
Ricardo Balistiero argumenta que por ser francesa, a Airbus, que realizou fusão parecida, em 2017, ao incorporar a canadense Bombardier, não enfrentou as mesmas dificuldades. Apesar disso, o economista não acredita que o movimento de agora da UE irá afetar o futuro das negociações.
Airbus 'passou por processo parecido'
"Parece uma reação de caráter protecionista, que vem dos europeus, e que não ocorreu quando a Airbus fez a fusão com a Bombardier. Mas acho que simplesmente estão marcando posição, não acredito que isso vai gerar qualquer outra consequência", disse à Sputnik Brasil.
De acordo com Balistiero, a iniciativa da Boeing de buscar a fusão com a Embraer "foi quase como uma resposta" ao acordo da Airbus com a Bombardier.
"É muito mais uma preocupação, um excesso de zelo da União Europeia do que realmente algum fundamento de mercado", afirmou.
Sem 'arranhão na boa imagem da Embraer'
Para o economista, os entraves colocados pela União Europeia também não vão afetar as negociações internas da Embraer com a Boeing, nem a posição de destaque da companhia brasileira no mercado.
"As tratativas com a Boeing estão bem adiantadas, não acredito que isso vá gerar qualquer tipo de ruído na negociação, nem arranhão na boa imagem da Embraer, que continua sendo uma empresa sólida, com grande penetração internacional. Não tenho a menor dúvida de que essa fusão vai possibilitar - evidentemente que há a necessidade do contrato ser bem assinado, para evitar uma desnacionalização, o fortalecimento da presença da Embraer no mercado internacional", opinou.
A grande preocupação da Comissão Europeia, órgão antitruste do bloco, em relação à fusão é a redução do número de participantes no mercado mundial de jatos de três para dois.
Russos e chineses estão chegando
Sobre esse ponto, Balistiero lembra que a russa Sukhoi e a chinesa Comac estão crescendo e podem conseguir competir num futuro próximo com as atuais gigantes do setor.
"Não menosprezaria a capacidade chinesa de inovação e criação de uma gigante de fabricação de aeronaves, que em conjunto com os russos, certamente vai gerar um ruído no mercado que só vai proporcionar benefícios aos consumidores, uma vez que é muito melhor ter três grandes fabricantes de aeronaves no mundo", disse o especialista.