“Quando [Maurício] Macri assumiu o poder na Argentina, o que se indicava era que o país implementaria políticas econômicas e sociais de livre mercado, seguindo padrões internacionais. À medida que a Argentina teve uma mudança ideológica no poder, os Estados Unidos tiveram indicação de que o país não vai mais implementar essa política”, resumiu Daniela Alves, do IBMEC de São Paulo.
Alberto Fernández, de esquerda, venceu com margem confortável as eleições no ano passado na Argentina, que viu sua crise econômica se aprofundar na gestão Macri.
Na terça-feira (14), a embaixada dos EUA em Brasília divulgou nota afirmando que o país apoiaria a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o que era uma “evolução natural do compromisso reafirmado pelo secretário de Estado [Mike Pompeo] e pelo presidente” norte-americano, Donald Trump.
Apesar de o presidente Jair Bolsonaro ter saído de encontro com Trump em março do ano passado afirmando que os EUA defenderiam a candidatura do Brasil na entidade, os EUA indicaram em outubro de 2019 que iriam apoiar primeiro o ingresso da Argentina na OCDE, que pleiteava a vaga há mais tempo.
Agora, com a manifestação do governo dos EUA, o quadro parece ter mudado. Nesta quarta-feira (15), Bolsonaro afirmou que o Brasil estava "bastante adiantado" para cumprir os critérios de entrada na OCDE, "inclusive na frente da Argentina".
'Aliança entre Brasil e EUA está se fortalecendo'
“Já estava sendo sinalizado de que os EUA iriam preferir o Brasil na frente da Argentina por conta das mudanças no quadro eleitoral argentino”, disse Daniela à Sputnik Brasil.
Além disso, a professora ressalta a que a “aliança entre os Estados Unidos e o Brasil vem se fortalecendo cada vez mais”.
A especialista aponta também que desde o governo de Michel Temer, com continuidade na administração atual, o Brasil vem realizando “reformas que estão dentro dos padrões internacionais para inspirar confiança para atração de investimentos internacionais”.
Essa política de mercado, de acordo com a especialista, pesa na hora dos EUA apoiarem um país para ingressar na OCDE.
Nesta quarta-feira, foi realizada em Paris uma reunião dos países membros da entidade. Segundo o Itamaraty, os EUA formalizaram no evento o pedido de prioridade para o Brasil entrar na organização.
'Obstáculos e negociação pela frente'
Segundo Daniela, participar da OCDE é positivo, mas não é algo que automaticamente se traduz em desenvolvimento.
“Vejo com bons olhos a entrada, é uma sinalização muito positiva para o país. Estar na OCDE, chamada informalmente de clube dos países ricos, quer dizer que nós estaremos na mira de grandes investidores. Mas o ingresso, por si só, não garante a atração imediata de investimentos, isso acontece ao longo do tempo. O Brasil só vai realmente conseguir atrair investimentos e fomentar a economia se tiver políticas de implementação das diretrizes da OCDE”, afirma a professora.
Para concluir a entrada na entidade, todos os países membros e comitês da OCDE precisam aprovar a candidatura do Brasil.
“Teremos alguns obstáculos e muita negociação pela frente”, disse Daniela Alves.