As acusações elencam fraudes durante o período de um ano e meio no qual Isabel dos Santos esteve à frente da estatal de petróleo angolana, a Sonangol. Detalhes das acusações foram divulgados na quarta-feira (24), quando o procurador-geral de Angola, Helder Pitta Gros, informou durante entrevista coletiva que Isabel dos Santos estava sendo formalmente acusada de lavagem de dinheiro, tráfico de influência e falsificação de documentos, entre outros crimes.
Isabel dos Santos é considerada a mulher mais rica do continente africano e a segunda mulher negra mais rica do mundo, atrás apenas da apresentadora e empresária norte-americana Oprah Winfrey.
A expectativa da Justiça angolana é de recuperar até US$ 1,1 bilhão de Isabel dos Santos e seu marido, o congolês Sindika Dokolo. Recentemente a fortuna da angolana, estimada pela Forbes em US$ 2,3 bilhões, foi pivô de um escândalo em torno das reportagens do "Luanda Leaks", do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), que revelaram que a filha do ex-presidente angolano desviava fundos públicos para paraísos fiscais.
Os documentos revelados apontam 700 mil registros financeiros e comerciais, além de uma rede de colaboradores que inclui banqueiros, advogados e contadores, entre eles grupos conhecidos como o Boston Consulting Group.
No dia em que as acusações vieram a público, o banqueiro português Nuno Ribeiro, envolvido no caso, foi encontrado morto dentro de sua casa em Lisboa. O banqueiro trabalhava no EuroBic, banco em que Isabel dos Santos era a principal acionista, mas que encerrou suas relações com a angolana na segunda-feira (20), conforme revelou o ICIJ. Nuno Ribeiro, que administrou a conta da Sonangol no EuroBic, estava em depressão, ainda segundo o ICIJ, e provavelmente teria cometido suicídio.
Não é a primeira vez que a fortuna de Isabel dos Santos levanta suspeitas, porém ela sempre negou as acusações. Segundo publicou o site Quartz, a filha de José Eduardo dos Santos assinou recentemente um contrato de 2,2 milhões com uma empresa de lobby norte-americana, a Sonoran Group, que seria próxima do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A Procuradoria Geral da Angola afirmou que pode acionar a Interpol contra Isabel dos Santos, que vive no exterior, para levá-la de volta à Angola.
O país africano foi presidido pelo pai da acusada entre 1979 e 2017. O atual presidente, João Lourenço, tem defendido esforços de combate à corrupção e teria recuperado até US$ 5 bilhões apenas no mês passado.
Laços no Brasil
Uma reportagem publicada pela agência de jornalismo investigativo aPública, também revelou nesta semana que Isabel dos Santos mantém laços com empreendimentos imobiliários suspeitos no Brasil.
O texto cita condomínios de luxo em João Pessoa-PB, que segundo a Polícia Federal, teriam fundos desviados pelo ex-diretor-geral da Sonangol, José Carlos de Castro Paiva. O ex-diretor geral da estatal petrolífera foi investigado durante 7 anos pela Polícia Federal.
Os fundos desviados na Angola passavam por uma rede de empresas e paraísos fiscais antes de chegar ao Brasil. O site angolano Maka Angola publicou que Castro Paiva, que comandou a filial da Sonangol no Reino Unido, mantinha laços estreitos com Isabel dos Santos. Segundo a investigação do site, o dinheiro desviado da filial britânica da Sonangol, usado por Isabel dos Santos para pagar executivos da empresa de forma ilegal, é o mesmo utilizado por Castro Paiva no Brasil.