Na última sexta-feira (24), o presidente Jair Bolsonaro descartou a possibilidade de separar a pasta da Segurança Pública do Ministério da Justiça, comandado pelo popular ministro Sergio Moro.
Moro falou sobre a Lava Jato e sobre seu primeiro ano na chefia do Ministério da Justiça, e não se esqueceu de dizer o que acha sobre a Vaza Jatohttps://t.co/TsMSHPoyOX
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Ao fazer sua declaração, ao chegar Nova Deli, capital da Índia, em visita oficial, o chefe de Estado brasileiro afirmou que não mexeria em "time que está ganhando", acabando, assim, com a expectativa de secretários estaduais do setor, que pediam a criação de uma pasta específica para a segurança pública. Mas, um dia antes, o próprio Bolsonaro havia falado que estava estudando a chance de recriar esse ministério.
Esse novo mal-entendido levantou novas suspeitas sobre a saúde da relação entre o presidente da República e seu principal ministro. Um dos políticos mais populares do Brasil na atualidade, Moro é considerado um nome em potencial para a disputa presidencial de 2022, fato que, segundo alguns analistas, estaria preocupando Bolsonaro, pré-candidato à reeleição no próximo pleito.
Em consideração espontânea para a eleição presidencial de 2022, Jair Bolsonaro foi o mais citado pelos entrevistados (29,1%), seguido pelo ex-presidente Lula (17%), Ciro Gomes (3,5%), Sergio Moro (2,4%) e Fernando Haddad (2,3%) https://t.co/gP3qDkzzFU
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Para Ricardo Ismael, cientista político da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o ministro Sergio Moro é, sem dúvida, "uma das estrelas nacionais em ascensão, e, ao convidá-lo para compor o governo após as eleições de 2018, Bolsonaro sabia que estava correndo o risco de escolher um ministro que, depois, não poderia demitir, "porque a popularidade é muito grande".
Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista afirma que a presença de Sergio Moro na atual administração federal indicaria uma continuação da operação Lava Jato e a ideia de combate à corrupção no país. No entanto, o acadêmico acredita que, talvez, hoje, o chefe do executivo esteja, sim, incomodado com essa "popularidade crescente" de Moro.
'Não tenho problema nenhum com ele', diz Bolsonaro sobre Moro https://t.co/mQlWHQx5JL pic.twitter.com/2r4bry95UZ
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"Por outro lado, é também um aspecto que tem sido, vamos dizer assim, talvez, uma boa parte da avaliação política que o governo tem. É o fato de que o Moro aponta para, vamos dizer, a continuidade do combate à corrupção e, mais recentemente, agora, para a queda desses índices de criminalidade no Brasil, que também foi uma bandeira da campanha do Bolsonaro."
Nesse episódio sobre o possível retorno do Ministério da Segurança Pública, Ismael acredita que o presidente da República lançou, sim, a ideia de possibilidade de divisão dos poderes de seu ministro da Justiça, mas acabou recuando devido às reações negativas de seus próprios eleitores.
"Isso dá indícios de que tem incomodado não apenas o mundo político e não apenas o PT e a oposição, mas o próprio Bolsonaro, essa capacidade do Sergio Moro de angariar cada vez mais apoiadores pela país inteiro."
Ainda de acordo com o professor ouvido pela Sputnik, no que diz respeito às eleições de 2022, tudo pode acontecer, inclusive uma eventual candidatura de Moro a presidente, embora, ele destaca, o ministro venha se manifestando contrário a essa ideia.
"Se ele continuar como ministro da Justiça, certamente, ele continuará apoiando Bolsonaro na tentativa de reeleição. Se ele for para o Supremo [Tribunal Federal], ele vai ter que suspender as atividades partidárias, de apoio a esse ou àquele candidato, pois a liturgia do Supremo exige isso. Agora, como eu disse, o problema aí, talvez, seja conter um pouco essa ciumeira, ou vamos dizer assim, um pouco, a questão dos egos. Em política, isso também está presente."