O governo norte-coreano está empenhado em usar a mídia estatal para alertar seus cidadãos de que podem ter pela frente um caminho turbulento. Após o fracasso do diálogo com os EUA, não há perspectivas de que as sanções econômicas impostas por Washington sejam retiradas.
A mídia estatal exortou os norte-coreanos a "romperem barreiras" e a fortalecerem o país. No entanto, o otimismo que prevaleceu desde o início da era Kim Jong-un, em 2011, parece estar se esvaindo.
"A mensagem [da mídia estatal] será de que, por causa da política hostil e das sanções dos EUA, as coisas podem ficar mais difíceis a curto e médio prazo", disse o professor visitante da Universidade George Mason da Coreia do Sul, Andray Abrahamian.
Nos bastidores, membros do governo norte-coreano admitem estar buscando maneiras de diminuir o impacto das sanções, disse à Reuters um pesquisador europeu que participa de encontros informais com colegas norte-coreanos regulamente.
Publicamente, a Coreia do Norte reafirmou não se considerar obrigada a impor limites ao seu programa de mísseis ou nuclear, culpando os EUA por não cumprirem o prazo estipulado por Pyongyang para a retomada das negociações e por imporem sanções "desumanas e brutais".
Desde que Kim chegou ao poder em 2011, muitos norte-coreanos têm visto suas condições de vida melhorar, em comparação com as privações e até mesmo a fome dos anos 90. Em 2018, o líder anunciou que o programa nuclear estava "completo" e prometeu o fim dos anos de dificuldades econômicas e materiais.
Mas a manutenção das sanções dos EUA contra o país por tempo indeterminado pode colocar Kim Jong-un em uma situação delicada.
"Em 2012, Kim prometeu que o período de 'vacas magras' chegaria ao fim", disse Abrahamian. "A maioria dos norte-coreanos tem experienciado uma melhora na qualidade de vida no governo Kim Jong-um, então tenho a certeza de que esse será um período de preocupações para eles".
A nova narrativa da mídia estatal deve apoiar o tom adotado por Kim Jong-un em seu discurso de fim de ano, quando alertou os norte-coreanos para a chegada de um período de "luta árdua e prolongada".
O líder defendeu que os cidadãos se engajassem na construção de uma economia autossuficiente, já que a retirada das sanções teria sido adiada, disseram analistas.
Kim usou o discurso de fim de ano para reconhecer que os norte-coreanos teriam que reduzir os gastos por enquanto.
Essa declaração foi um reconhecimento bastante difícil para o líder norte coreano, uma vez que contraria suas promessas do passado, disse Rachel Minyoung Lee, do NK News.
"Eu tenho a sensação de que [os norte-coreanos] estão tentando ganhar tempo para realizar algumas mudanças na sua política externa e, à medida que a Coreia do Norte se aproxima do lançamento de sua 'nova arma estratégica', teremos mais clareza de quais são as suas intenções", disse Lee.
Kim Jong-un enfrenta uma conjuntura internacional sensível, após o fracasso das negociações com os Estados Unidos sobre a desnuclearização e consequente manutenção das sanções contra o país.