Fortes chuvas atingem Minas Gerais e 101 municípios do estado estão em situação de emergência. O decreto terá validade de 180 dias, ao passo que facilita os serviços de auxílio à população local.
As chuvas que têm castigado Minas Gerais também atingiram municípios do Rio de Janeiro e Espírito Santo, provocando dezenas de mortes e deixando milhares de desabrigados e desalojados.
Segundo Ricardo Motta Pinto-Coelho, professor visitante do Curso de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de São João del-Rei, MG, "os totais de chuva em Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro apresentam valores históricos".
Em conversa com a Sputnik Brasil, o professor destacou que o estado de Minas, com seus mais de 500 municípios, concentra as cidades mais densamente habitadas na Região Metropolitana de Belo Horizonte, além de aglomerados importantes do ponto de vista econômico ao longo da margem do Rio do Vale Doce. A chuva atinge justamente essa região.
"As mudanças climáticas, sem dúvida, estão por trás desse agravamento e as variações sazonais se tornaram muito mais intensas. As secas estão mais dramáticas, as chuvas estão mais intensas. Se você olhar os relatórios do Painel Climático da ONU você vai ver que essa é uma das previsões das mudanças climáticas", declarou o acadêmico.
No entanto, Pinto-Coelho alertou para a importância de observar a maneira como as cidades tem sido construídas. Para ele, as mortes provocadas pela chuva também são resultado da ação humana.
"Quase todas essas cidades [afetadas pelas chuvas] apresentam uma característica típica de cidades brasileiras que é a falta de planejamento urbano", apontou o especialista.
Os bairros mais pobres sofrem mais com deslisamentos e alagamentos, em função das construções ilegais. No entanto, o governo deveria agir de modo mais enérgico para impedir esse tipo de situação, alegou o entrevistado.
"As pessoas tendem a julgar as pessoas mais pobres, os invasores. As pessoas que, inadvertidamente, constroem na margem do rio. Mas eu procuro pensar de uma maneira diferente. Eu acho que as prefeituras e os gestores públicos municipais é que têm que levar a maior parcela de culpa nesse processo".
"Os gestores públicos municipais foram extremamente lenientes no planejamento urbano ao longo dos cursos de água. Isso é notável", acrescentou o geógrafo.
Para o professor, o governo federal deveria realizar uma ampla reforma urbana no país de modo a regularizar a situação de habitações em encostas. O acadêmico cobrou por uma "melhor qualidade do zoneamento urbano" e afirmou que a situação atual reflete a crise das cidades no Brasil: "cidades que sofrem na seca, cidades que sofrem na enchente".
Portanto, mesmo com todas as mudanças climáticas, o interlocutor da Sputnik Brasil destacou a importância dos preparativos para agir em defesa da população.
"O clima até certo ponto é imprevisível, mas nos poderíamos ter mais preparo para enfrentar essas situações", concluiu.