A expansão da OTAN foi um erro geopolítico que poderá enfraquecer a aliança no longo prazo, afirmou o analista Michael Krepon, em artigo publicado na National Interest.
Após grandes progressos nas relações entre Washington e Moscou, que levaram ao desenvolvimento do sistema de controle de armamentos e de não proliferação, a situação da segurança mundial parece estar em forte deterioração.
Para o analista, o início da derrocada deu-se quando a administração Clinton bombardeou Belgrado durante os conflitos que se seguiram ao fim da Iugoslávia.
Apesar de, à época, a decisão ter parecido essencial para deter o sérvio Slobodan Milosevic, o custo para as relações entre Washington e Moscou foram incalculáveis. No entanto, a virada mais dramática nas relações entre as duas grandes potências foi o início do processo de expansão da OTAN, garante o analista.
Parte da elite política norte-americana do início da década de noventa viu na expansão da OTAN uma possibilidade de angariar ganhos fáceis, frente a uma Rússia seriamente debilitada. Caso um dia a Rússia viesse a se reerguer, esses ganhos seriam de grande valia para Washington.
Mas o argumento colocado publicamente era mais palatável, e afirmava que a OTAN não tinha o que temer, uma vez que a Guerra Fria acabara e os anos de confrontação tinham ficado para trás. A era de confrontação, diziam, tinha sido substituída por uma era de parceria.
Os críticos argumentavam que a expansão da OTAN aumentaria as possibilidades de confronto com a Rússia e ampliaria perigosamente os compromissos militares internacionais dos EUA.
A administração Clinton acabou optando pela expansão, mas acreditava que poderia realizá-la de forma progressiva. Só que a porta agora estava aberta e a administração seguinte, liderada pelo presidente Bush, não hesitou em pressionar pela adesão de países como a Ucrânia e a Geórgia, o que era visto pelo Kremlin como uma "linha vermelha" que não se poderia nunca ser cruzada.
Para Krepon, a expansão da aliança militar foi um erro estratégico, que poderá resultar no enfraquecimento político e militar da Aliança.A OTAN aceitou em suas fileiras países com pouca ou nenhuma capacidade militar, cujos territórios são difíceis de ser defendidos por forças convencionais.
A aliança atualmente conta com 28 membros, contra 16 antes do fim da Guerra Fria, todos cobertos pela cláusula de defesa coletiva. Montenegro, o mais novo membro da OTAN, tem somente vinte e quatro mil militares na ativa.
A expansão da OTAN fez com que o período de progresso na área de controle de armamentos, não proliferação e relacionamento entre as potências militares fosse curto, sendo seguido por uma nova era de confrontação.
Atualmente, tratados de grande relevância para a manutenção da segurança europeia e mundial foram abandonados, ou expiraram, como o Tratado INF e o Tratado sobre Mísseis Antibalísticos.
No entanto, o analista acredita que a possibilidade de a Casa Branca ter evitado a expansão da OTAN e a consequente deterioração das relações com a Rússia era praticamente zero. Havia apenas um membro da equipa de Clinton (William Perry, no Pentágono) que expressou sérias dúvidas sobre a expansão da OTAN. A posição de Perry era tentar ganhar tempo, ao invés de se opor firmemente à expansão.
De acordo com o analista, as cartas já estavam dadas em 1993, e somente um presidente extraordinariamente visionário e imune às pressões políticas poderia ter optado por evitar a expansão da aliança. O nível de restrição necessário para evitar esse passo seria simplesmente muito grande.
"Mesmo que Clinton tivesse escolhido não expandir a OTAN, George W. Bush e a sua equipe de triunfalistas e românticos estavam decididos a fazê-lo", escreve Krepon. Para ele, os americanos agora estão "pagando o preço".