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Parceria energética: Brasil corre algum risco ao cooperar com os EUA?

© Folhapress / Luciana WhitakerTurbinas da usina nuclear Angra 2, em Angra dos Reis (RJ) (foto de arquivo)
Turbinas da usina nuclear Angra 2, em Angra dos Reis (RJ) (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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Brasil e Estados Unidos estão unindo esforços para desenvolver o setor energético, mas que tipo de benefícios e que tipo de riscos devem ser levados em consideração nessa possível parceria ampla com os norte-americanos?

Foi realizada nesta segunda-feira, no Rio de Janeiro, a primeira reunião ministerial do Fórum de Energia Brasil–Estados Unidos, com o objetivo de fortalecer a cooperação entre os dois países na área. 

​Durante o evento, o secretário de Energia norte-americano, Dan Brouillete, disse que os EUA estão dispostos a ajudar o Brasil a desenvolver um marco regulatório mais atraente para leilões de óleo e gás, com mais segurança jurídica e transparência. Apesar disso, o secretário elogiou os leilões realizados pelo Brasil no ano passado.

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, por sua vez, mencionou o gás não convencional como um dos pontos a serem desenvolvidos nessa parceria com os EUA, mas destacou que os trabalhos ainda estão em fase inicial.

O Fórum de Energia Brasil-Estados Unidos foi anunciado pelos presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro durante reunião em março de 2019. Entre os acordos então previstos estão dois na área nuclear. E, também durante o evento desta segunda-feira, a brasileira Eletronuclear e a americana Westinghouse assinaram carta de intenções para a extensão da vida útil da usina nuclear de Angra 1 por mais 20 anos, informou O Globo. 

Brasil precisa de cuidado para defender seus interesses 

De acordo com o especialista em engenharia nuclear Luiz Pinguelli Rosa, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a cooperação energética com os norte-americanos deve ser conduzida com muito cuidado, para garantir a preservação dos interesses do Brasil. Em entrevista à Sputnik Brasil, ele explica que "a tendência dos Estados Unidos é muito abrangente" e pode ter uma influência mais focada nos interesses de Washington do que nos interesses nacionais.

"O Brasil tem interesses próprios na área de energia e precisa ver com muito cuidado para não abrirmos mão desses interesses em benefício dos norte-americanos", disse o acadêmico à Sputnik.

Segundo Rosa, o Brasil tem uma situação "sui generis" em energia, com uma grande reserva petrolífera, uma grande empresa petrolífera e bom uso de energias alternativas, como no caso da biomassa, com vantagens sobre os Estados Unidos inclusive nesse caso.

"Os Estados Unidos usam etanol, mas o etanol americano é de milho e, para produzi-lo, é preciso queimar óleo combustível de petróleo, o que tira boa parte da vantagem do uso do etanol. Enquanto no Brasil, o etanol de cana utiliza bagaço da própria cana para a produção dele, o que faz um balanço, aproximadamente, nulo de emissões de gases do efeito estufa. Isso é um mero exemplo."

Para o especialista, é explícito, no caso dos leilões de petróleo, o interesse dos EUA de influenciar o comportamento do governo brasileiro em questões energéticas.

"Para que os Estados Unidos, que é um concorrente do leilão, vêm aqui dizer como deve ser o nosso leilão? Obviamente, é um interesse americano que estará representado. E o Brasil deve velar por seus próprios interesses. Eu acho que isso é um problema."

No que diz respeito à energia nuclear, o professor acredita que a melhor forma que os Estados Unidos teriam de ajudar o Brasil a desenvolver esse setor seria através da transferência de tecnologias, mas isso também precisaria ser muito bem detalhado, com muita cautela.

"Talvez seja uma possibilidade, mas com casos específicos, bem concretos, não vagamente. Ajudar na energia nuclear: ajudar em que, como e para quê? Eu acho que isso tem que ser detalhado. Enquanto não for, eu vejo também com muita suspeição", afirma. 

​Em Angra 1, o pesquisador considera plausível haver uma cooperação que seja benéfica para as duas partes, por se tratar de um reator norte-americano. Mas, sobre os planos brasileiros de construir mais seis reatores nos próximos dez anos, no valor aproximado de US$ 30 bilhões e com possível participação norte-americana, ele diz entender que há uma certa precipitação por parte do ministro de Minas e Energia.

"A energia nuclear para o Brasil foi muito cara. Ela é problemática por causa do problema de acidentes nucleares. Não foi na área de reatores, mas o Brasil já sofreu com acidentes, na área de aplicações médicas, o famoso problema do césio-137 em Goiânia. Eu acho que a energia nuclear deve ser objeto de um estudo bem específico, e o Brasil tem que fazer manifestar sua vontade levando em conta inclusive opiniões de natureza política e ambiental, pois a energia nuclear é um problema ambiental."

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