Após campanha via Internet, um grupo de brasileiros que vivia em Wuhan conseguiu ajuda do governo brasileiro e voltará ao Brasil. O retorno dos brasileiros da área que é o epicentro do surto do novo coronavírus na China está atrelado à adoção de medidas de segurança enviadas pelo governo como Projeto de Lei ao Congresso Nacional.
Entre as medidas sugeridas no PL estão previstos isolamento; quarentena; realização compulsória de coletas de amostras, exames, vacinas e tratamentos médicos específicos; restrição temporária de entrada e saída do país e de requisição de bens e serviços.
As aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) que vão buscar os brasileiros na China partiram nesta quarta-feira (5) do Brasil. Além dos repatriados, os militares que participam da missão também serão submetidos às medidas de segurança quando retornarem ao território brasileiro. A previsão é de que as aeronaves cheguem à China na sexta-feira (7) e retornem ao Brasil no dia seguinte.
Para comentar as medidas sugeridas pelo governo brasileiro, a Sputnik Brasil ouviu o infectologista Edimilson Migowski, professor de Doenças Infecciosas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Migowski, um dos principais especialistas brasileiros na área, acredita que a letalidade apresentada pelo vírus justifica medidas como o isolamento, uma vez que o novo coronavírus, explica, seria até seis vezes mais letal que o H1N1 e 20 vezes mais letal que a Dengue.
"Não dá para ficar bobeando com ele [o novo coronavírus]. Nesse momento acho que vale a pena sim manter esse grupo em isolamento respiratório de contato, afastado de grandes populações", diz o infectologista em entrevista à Sputnik Brasil.
A forma de isolamento do grupo trazido da China pelo governo brasileiro também deve ser cuidadosa, segundo o professor.
"Tendo em vista que esse grupo é considerado de risco elevado - e se não fosse não demandaria uma quarentena de tempo determinado pelo governo - a gente tem que estabelecer grupos", avalia.
O infectologista aponta que pensa ser melhor separar as famílias, por exemplo, para que não tenham contato com outros grupos que estavam juntos na China e que poderiam estar contaminados.
"[Temos que] segregar e dentro desses segregados fazer subgrupos onde eu colocaria junto quem já está junto lá [na China], mas não colocaria todo mundo junto em um único local".
Para ele, algumas medidas devem ser adotadas para garantir a efetividade dessa separação.
"Guardaria uma certa distância, de dois metros, de um estranho para outro estranho, reforçando a higiene das mãos, monitorando, e a qualquer sinal de infecção respiratória que a gente estabelecesse um isolamento ainda maior desse elemento que vier, infelizmente, a desenvolver um quadro respiratório", aponta o professor.
Segundo ele, é importante ter em mente que o isolamento do grupo do resto da população protege quem está fora do isolamento, mas não protege "eles deles próprios".
Migowski também mantém o bom humor e sugere uma comemoração após o isolamento.
"Depois que passar esse período de quarentena você faz uma festa, toma um drinque, faz um churrasco para comemorar o êxito", brinca o infectologista.
Por fim, o professor comenta que o isolamento de 18 dias, sugerido pelo governo brasileiro, aponta que é possível que o governo tenha alguma informação privilegiada, uma vez que a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que o isolamento seja de 14 dias.
"Se eu estivesse à frente disso, com o conhecimento que eu tenho, tomando por base as fontes que eu utilizei, eu colocaria 14 dias seguindo o que a própria OMS vem orientando. A não ser que só eu soubesse alguma coisa que ninguém mais sabe [...] Quero acreditar que se o governo está falando em 18 dias ele deve saber alguma coisa que eu não sei", conclui.