O Brasil é o principal exportador de carne bovina do mundo. Em 2019, o setor exportou 1,8 milhão de toneladas e arrecadou US$ 7,59 bilhões (cerca de R$ 32 bilhões) batendo recorde de exportação tanto em volume quanto em faturamento, segundo a Associação Brasileira de Exportadores de Carnes (ABIEC).
A Rússia, que já foi o principal destino da carne brasileira, ficou em sétimo lugar em 2019, absorvendo somente 3,5% das exportações nacionais.
Desde 2017, Moscou impôs severas restrições às importações de carne do Brasil, suspendendo as exportações de 50 das 59 plantas frigoríficas habilitadas.
Mas isso não desanima os principais vendedores de carne brasileira do mercado, reunidos na feira de alimentos Prodexpo, realizada em Moscou entre os dias 10 e 14 de fevereiro.
João Santos Lima trabalha com exportações de carne brasileira para o mercado russo há 15 anos e reconhece que a intensidade das vendas desacelerou desde 2017.
"O mercado de carne está mais fechado. Fechou bastante para que a Rússia desse mais suporte para o mercado local. Mas, mesmo assim, ainda existe uma grande demanda para a carne brasileira, existe interesse por parte dos russos e das fábricas de processamento da Rússia", disse Lima à Sputnik Brasil.
O Brasil tradicionalmente vende cortes de dianteiro e recortes de carne bovina para a Rússia, usados sobretudo para o processamento: "Eles [russos] usam para fazer diferentes tipos de mortadela, de salame e carne enlatada", explicou Lima.
A indústria local russa se desenvolveu intensamente nos últimos anos. Empresas como a Miratorg ganham espaço e credibilidade no mercado interno, vendendo cortes como filé mignon e picanha nas gôndolas dos supermercados.
"A Rússia está produzindo carne de alta qualidade, mas não há nenhum conflito de interesse. A carne brasileira vendida aqui é em sua grande maioria destinada à fabricação de embutidos, ou seja, não colocamos carne brasileira nas gôndolas, então não estamos competindo com as produtoras de carnes locais", argumentou Lima.
Por isso, Lima acredita que mais plantas brasileiras serão autorizadas a exportar para a Rússia em 2020.
"Acredito que a perspectiva é boa e que a gente vai continuar vendendo carne brasileira aqui. Eles confiam muito no produto brasileiro, conhecem os fornecedores e se sentem muito confortáveis em trabalhar com a gente", destacou.
Marcar posição
O otimismo de Lima é compartilhado por Paulo Zedra, representante do frigorífico brasileiro Mataboi, que está na Rússia pela quarta vez promovendo a carne bovina.
"O mercado da Rússia é muito importante para nós, que temos grande oferta de carne para processamento. Outros países não são capazes de absorver esse volume, porque não têm a quantidade de indústrias de processamento que a Rússia tem", destacou Zedra para a Sputnik Brasil.
As plantas exportadoras da Mataboi estão, assim como a imensa maioria das plantas frigoríficas brasileiras, suspensas temporariamente de exportar para o mercado russo.
"Hoje é de suma importância o retorno do mercado da Rússia para a carne brasileira. O Brasil trabalha com outros grandes mercados, como o da China, mas ele não compra matéria-prima para a indústria", contou Zedra.
Paulo Zedra acredita que, mesmo com o mercado fechado, é muito importante comparecer a grandes eventos na Rússia, como a feira de alimentos Prodexpo.
"A gente, mesmo sem habilitação, vem para a feira mostrar o nosso produto. Estamos aqui presentes, firmes", garante.
Segundo ele, o mercado russo segue se desenvolvendo e "vemos a feira cada vez mais profissionalizada".
"Mas nós não estamos aqui só como Mataboi, estamos aqui representando a carne brasileira e isso nos deixa muito feliz", concluiu Zedra.
A ABIEC acredita que as vendas para o mercado russo devem se reaquecer em 2020. Em nota à Reuters, a associação declarou que sua expectativa é "de que novas plantas sejam habilitadas no decorrer deste ano e que as exportações para a Rússia voltem à normalidade".