O Brasil está representado por uma ampla gama de produtos em seu estande coordenado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX), desde os tradicionais café e carne bovina até os badalados cacau, açaí e água de coco.
Mas para quem acompanha a trajetória do comércio bilateral entre Rússia e Brasil, o mais impactante é o papel das castanhas, que estão dominando o estande, tradicionalmente tomado pela carne bovina.
De acordo com Robson Fonseca, representante da exportadora de castanhas Coplana, o "Brasil tem uma relevância muito grande hoje na Rússia", exportando cerca de 60 mil toneladas de amendoim anualmente.
"É uma relação de interdependência: 60% das importações russas de amendoim são provenientes do Brasil e o Brasil exporta 60% de seu amendoim pra Rússia", confirmou Maurício Martani, da Osinato, que representa diversas empresas do ramo das castanhas.
Martani conta que exporta castanhas, principalmente o amendoim, para o mercado russo há cerca de 10 anos.
"Quando a Rússia passou por dificuldades e o rublo despencou, nós aumentamos ainda mais nossas vendas e parcerias aqui. Todo mundo ficou com medo, mas nós viemos, conversamos, oferecemos prazo, e aumentamos a nossa participação. A parceria entre Brasil e Rússia no amendoim vem crescendo muito", disse Martani para a Sputnik Brasil.
Fonseca concorda: "Nos últimos cinco anos, nós avançamos bastante. Se antes exportávamos para três ou quatro importadores, hoje são mais de dez compradores do nosso produto."
O amendoim é utilizado na Rússia tanto para a fabricação de confeitos e chocolates quanto para a venda como salgadinho. Os russos têm uma cultura forte de consumo de doces e "gostosuras" (vskusnyashki, em russo), que normalmente são consumidos junto com chá preto.
Mas os hábitos de consumo russos estão mudando paulatinamente, seguindo as tendências internacionais de buscar alimentos orgânicos e saudáveis. Nesse contexto, o açaí está cada vez mais presente no estande brasileiro da feira de alimentos de Moscou.
De acordo com o comerciante de açaí Georgy Khashataev, as perspectivas para o açaí na Rússia "são enormes".
"O consumidor russo está cada vez mais interessado em produtos orgânicos, todo mundo está preocupado com a saúde, com a aparência. O açaí chegou há poucos anos no mercado russo, e o consumidor está começando a entender do que se trata", contou Khashataev.
"É como as nossas framboesas, o nosso mirtilo, mas com um gostinho achocolatado no final", descreveu o comerciante. "O consumidor russo adora experimentar produtos novos."
A entrada do produto no mercado está sendo bem-sucedida. Uma das maiores redes de cafeterias do país, a Shokoladnitsa, incluiu recentemente o açaí na tigela em seu cardápio.
"Isso irá abrir as portas para vários produtos brasileiros que os russos não conhecem, como cupuaçu, acerola e guaraná", disse Khashataev à Sputnik Brasil.
Inovação e saúde
Nessa tendência de alimentação saudável e da preferência dos russos por produtos novos, a diretora de exportação da Coco do Vale, Lis Oliveira, está determinada a abrir o mercado russo para a água de coco.
"O principal desafio é que os russos ainda não conhecem a água de coco e seus benefícios. Mas quando eles entenderem o quão saudável é essa bebida, eles vão ver que ela tem um valor agregado importante", contou Oliveira.
Ela conta para a Sputnik Brasil que, por enquanto, os russos que "vão à academia" são os que conhecem o produto, "então a ideia é levar a água de coco para as redes de produtos saudáveis e naturais".
O mercado russo é "estratégico" para a empresa, que hoje exporta sobretudo para os EUA, uma vez que ele pode abrir as portas para o Leste Europeu e para a Ásia Central.
"A decisão de vir para a Rússia está relacionada ao fato de os russos terem hábitos similares aos dos brasileiros, de ser um mercado que está se abrindo muito para novos produtos e que está com a economia aquecida", explicou.
Negócios na Rússia
Alguns dos representantes das empresas brasileiras estão na Rússia pela primeira ou segunda vez, e são unânimes ao dizer que o país é muito diferente do que se imagina.
"Uma surpresa, principalmente na primeira vez que eu vim. A imagem que temos é de pessoas fechadas, menos comunicativas. Mas é o contrário", conta Oliveira.
A representante da empresa de café Procafé, Karine Neto, está em visita a Moscou pela segunda vez.
"O país me encantou. Eu achava que a Rússia era um lugar frio, não frio pelo clima, mas pelo comportamento das pessoas. E aqui eu vi muita luz", revelou para a Sputnik Brasil.
Mas ela lembra que, para exportar para a Rússia, é necessário ter muita atenção aos procedimentos e com a documentação exigida.
A feira de alimentos Prodexpo é celebrada todo mês de fevereiro, na capital russa, Moscou. O escritório moscovita da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX) organiza anualmente estande para empresas brasileiras interessadas em exportar para a Rússia.