A informação foi adiantada pela Câmara de Comércio Digital (CDC, na sigla em inglês) dos EUA, que esteve investigando os pedidos de patentes chineses e se deu conta que muitos deles tinham a ver com a criação de uma moeda digital.
De acordo com Perianne Boring, chefe da CDC, citada pelo Financial Times, isto mostra bem o alcance do investimento chinês na área digital e o quanto a China leva a sério a questão de criação da sua própria criptomoeda.
Constatado o fato, o congressista Bill Foster apressou-se a advertir o chefe da Reserva Federal norte-americana, Jerome Powell, que a China levou adiante o seu projeto de implementação de uma moeda digital nacional, e defendeu que os EUA também deveriam considerar a criação de um criptodólar.
Foster teme que, caso os EUA não avancem nesse sentido, o dólar americano possa facilmente perder seu estatuto de moeda mundial.
Desde 2014 que a China vem planejando desenvolver sua própria criptomoeda, malgrado terem em 2017 proibido todas as moedas digitais então existentes no mundo.
O desenvolvimento da sua própria moeda digital, contudo, não foi suspenso.
Em dezembro de 2019, o chefe do Centro de Desenvolvimento de Moeda Digital da China, Mu Changchun, afirmou à Caijing que que o yuan digital estava apto para testes-piloto e que os testes de uso do yuan digital iriam além do sistema do Banco Central e abrangeriam também os setores de transporte, saúde, educação e serviços.
Em declarações à Sputnik China, Liu Dongmin, chefe do Centro de Finanças Mundiais do Instituto de Economia Mundial e Finanças da Academia de Ciências Sociais da China, disse crer que os chineses facilmente lidariam com o yuan digital por estarem já acostumados a pagamentos móveis na vida quotidiana.
Dongmin assegura mesmo que a China está entre os países que mais recorrem a pagamentos eletrônicos no dia a dia.
O próximo passo será a emissão do yuan digital, que não será muito diferente dos sistemas de pagamentos móveis já existentes.
Apesar de não ser fácil, de momento, quantificar as necessidades de moeda digital da China, é um fato que elas existem, prosseguiu Dongmin.
EUA ignoram as criptomoedas
Pelo contrário, os Estados Unidos têm ignorado as criptomoedas até o momento em que a Facebook anunciou o desenvolvimento de sua própria moeda digital, a libra. A libra, ao contrário de todas as outras criptomoedas existentes, poderia de fato se tornar uma moeda supranacional global, visto o Facebook ter uma enorme base de usuários – cerca de 2,45 bilhões de pessoas.
O projeto Libra foi de tal maneira criticado pelos reguladores financeiros ocidentais, que a Facebook se viu na contingência de suspender o processo, sobretudo depois que, sob pressão das autoridades financeiras americanas, Visa, Mastercard, Stripe, eBay, PayPal e várias outras grandes empresas financeiras se afastaram do projeto.
A China reconhece que o anúncio da libra da Facebook a fez acelerar o desenvolvimento da sua própria moeda digital, tanto mais que deseja estar sempre na vanguarda da tecnologia financeira. Mas o importante neste momento, segundo Liu Dunming, é consolidar o e-yuan no mercado interno e só depois se pode pensar nos mercados mundiais.
O especialista vê na moeda digital um meio de reforçar a capacidade dos reguladores para conduzir a política monetária de forma mais eficaz. A moeda digital pode substituir o dinheiro físico, com a vantagem de ser mais fácil de controlar que o numerário. Também será mais rápida que a bitcoin e dispensará a ligação à Internet.
Por enquanto, as preocupações do senador Bill Foster parecem ser prematuras por ser pouco provável que esteja para breve o lançamento do yuan digital à escala internacional.
Mas as reticências da Reserva Mundial em relação a um criptodólar pode deixar o campo livre para o e-yuan.
E tal como nas telecomunicações, com as redes 5G, os EUA podem vir a ser ultrapassados pela China na liderança financeira.