Nesta sexta-feira, o embaixador da Rússia no Brasil, Sergey Akopov, disse à Sputnik Brasil que, apesar da aquisição de sistemas russos de defesa antiaérea Pantsir-S1 ter deixado de ser prioridade para Brasília, Moscou continua considerando o Brasil como um mercado promissor para vender armas e equipamentos militares. Para o diplomata, existem boas perspectivas de cooperação na área.
O jornalista e especialista em assuntos militares e de Defesa, Pedro Paulo Rezende, concorda com o chefe da missão diplomática russa e analisa para a Sputnik Brasil as dificuldades encontradas até o momento para o desenvolvimento mais aprofundado de uma parceria técnico-militar entre os dois países.
"A Rússia tem disposição para transferência de tecnologia sensível e para entrega ampla da tecnologia. É só olhar o caso da Índia. Hoje em dia a Índia pode fabricar o SU-30MKI, que é o principal caça dela, integralmente no país. Ela tem tecnologia que foi repassada pela Rússia", ponderou ele em conversa com a agência.
No entanto, tanto questões políticas, quanto comerciais, acabam afetando as relações e os projetos conjuntos.
"Um grande problema que a Rússia tem no Brasil é o lobby ocidental, que impede empresas brasileiras de se interessar por fazer parcerias com empresas russas", explicou.
Dessa forma, as empresas russas tem dificuldade de realizar projetos no país.
"Sem um parceiro brasileiro capaz de absorver a tecnologia e que seja confiável, os russos não vão conseguir colocar o material deles aqui, a não ser que criem uma fábrica própria", acrescentou Rezende.
O especialista citou o caso do sistema de defesa antiaérea Pantsir, que em sua opinião oferecia "um pacote maravilhoso para o Brasil", com instalação de duas fábricas e transferência de tecnologia, no âmbito de um contrato de 1,5 bilhões de dólares.
No entanto, a subsidiária da Odebrecht que era a interlocutora da Rússia no país, Mectron, "saiu dos negócios" por questões jurídicas.
Por enquanto, sem um interlocutor desse tipo, a solução para a Rússia seria a criação de uma base industrial no Brasil. Nesse caso, existem algumas oportunidades interessantes, aponta o jornalista.
"Hoje em dia há uma quantidade enorme de fuzis AK-47 nas mãos da polícia carioca e da polícia paulista. A Polícia Militar precisa de armas confiáveis", pontuou ele.
O entrevistado revelou que as alternativas brasileiras para o mesmo tipo de armamento não são muito bem vistas pelas forças policiais em função da qualidade e da confiabilidade.
"Então existe um mercado dentro do Brasil, na área de segurança pública, que poderia ser atendido por uma fábrica da Kalashnikov aqui", assegurou.
Além disso, o analista destacou que os helicópteros russos são muito bem avaliados por pilotos nacionais que tiveram a oportunidade de trabalhar com esse equipamento.
"O exército precisa de um helicóptero de ataque. A Rússia tem algumas alternativas muito boas e baratas", declarou.
O jornalista também citou componentes para o submarino nuclear brasileiro, sistemas de controle de segurança nuclear e tecnologia espacial como temas que certamente deveriam entrar na pauta bilateral de uma eventual parceria.
No entanto, Pedro Paulo Rezente destacou que, na prática, só haverá avanços quando a questão política coincidir com a comercial.
"A parte política é importante, mas não é o único fator. Tem a parte comercial. É necessário procurar um parceiro confiável no Brasil", concluiu.