A investigação alega que a companhia se apresentou como uma empresa suíça, chamada Crypto AG (que era secretamente propriedade da CIA e da agência de inteligência alemã BND), e que fornecia máquinas de criptografia para as ditaduras latino-americanas, informa The Washington Post.
Segundo o relatório, os governos ditatoriais da América Latina, na segunda metade do século passado, adquiriram as máquinas da Crypto AG para realizar a Operação Condor – um sistema continental caracterizado pelo extermínio e desaparecimento forçado de opositores políticos desses regimes, que envolveu países como Chile, Paraguai, Bolívia, Brasil, Uruguai e Argentina.
O jornal escreve que as ditaduras latino-americanas não sabiam que os dispositivos, usados para enviar mensagens criptografadas, tinham sido adulterados e que os EUA estavam usando-os para espionar suas comunicações.
Com essa espionagem, os EUA puderam conhecer as atrocidades cometidas por estas ditaduras, que deixaram os funcionários da CIA alarmados com as violações dos direitos humanos. Apesar disso, os arquivos não revelaram nenhum esforço substancial por parte de agências de espionagem ou de altos funcionários americanos para deter as violações dos direitos humanos nos países envolvidos.
Essa não é a primeira vez que segredos da operação são revelados. Em abril de 2019, Washington enviou à Argentina documentos desclassificados revelando o terrorismo de Estado das ditaduras.
Espionagem em mais de 100 países
Além da América Latina, a Crypto AG vendeu máquinas manipuladas para mais de 100 nações, permitindo que a inteligência norte-americana adquirisse conhecimento de outros acontecimentos turbulentos em vários continentes.
A empresa de criptografia foi liquidada em 2018 e seus ativos foram adquiridos por duas empresas: CyOne Security, que vende sistemas de segurança para o governo suíço, e Crypto International.