Nesta semana, o Quênia celebra o milésimo dia do lançamento da ferrovia Mombaça-Nairóbi-Naivasha. O empreendimento figura-se como o maior investimento que o Quênia já teve com participação de capital estrangeiro, sendo no caso o chinês.
Contudo, o projeto se tornou alvo de críticas por parte de segmentos da mídia local como também ocidentais.
Em grande parte, críticos disseram que os empréstimos feitos pelo Quênia na China seriam pouco claros, e poderiam levar o país africano a uma crise de crédito.
Acusações 'sem fundamento'
Em entrevista à Sputnik China, o especialista da Universidade de Zhejiang, China, Liu Yun, afirmou que as acusações são "sem fundamento", ao passo que outros Estados africanos também estariam interessados em receber crédito chinês.
"Atualmente, grande parte dos projetos ferroviários sino-africanos é feita à custa de investimentos, porém não é correto afirmar que tais investimentos levam os países africanos a uma armadilha de crédito", declarou.
Ainda segundo Yun, os projetos trazem consigo investimentos vantajosos tanto para a China como para as nações africanas.
Interesses africanos
Um ponto considerado pelo especialista foi o fato dos empréstimos terem como objetivo atingir os interesses dos Estados africanos.
"Além disso, a construção de ferrovias corresponde à estratégia da industrialização moderna na África. Seja no Quênia ou em outros países africanos, os investimentos da China em ferrovias ocorrem em conformidade com as necessidades de tais países, e correspondem aos interesses do desenvolvimento econômico nacional deles", acrescentou.
Geração de emprego
Além do desenvolvimento tecnológico e da malha de transportes, a construção de ferrovias aumenta o número de pessoas empregadas.
"Com exceção dos especialistas chineses de alto nível, outros trabalhadores, incluindo os com qualificação, no geral são selecionados a partir dos moradores locais [africanos]", disse Yun.
Visita de Pompeo
Recentemente, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, visitou nações africanas no que seria uma tentativa de Washington demonstrar interesse pelo continente africano.
Na ocasião, os EUA criticaram a maior presença chinesa no continente, o que foi comentado na entrevista pelo especialista do Instituto de História Geral da Academia de Ciências da Rússia, em Moscou, Georgy Scherbakov.
"Eles [os EUA e a China] são grandes concorrentes [...] Ultimamente os EUA negligenciaram seus principais parceiros, mas isso não quer dizer que eles estão os abandonando. Diferentemente, a China aumentou e continua fortalecendo sua presença – em diferentes países e em direções distintas. Isso cria um desconforto nos EUA. Além do fato de o volume de investimentos da China em alguns setores ser dezenas de vezes maior do que o americano", declarou Scherbakov.
Maior parceria comercial
Ainda segundo o especialista chinês, um grande diferencial dos investimentos do gigante asiático em relação aos americanos está no fato de estarem voltados a infraestrutura e produção e se dão a nível estatal.
Enquanto isso, os investimentos ocidentais são em grande parte feitos pelo setor privado e o comércio.
Além disso, as exportações dos EUA para a África cresceram de US$ 22 bilhões (cerca de R$ 100 bilhões) em 2017 para US$ 26,6 bilhões (cerca de R$ 120 bilhões) em 2019.
Já em 2019, o comércio entre a África e a China atingiu US$ 208 bilhões (cerca de R$ 940 bilhões).