A Turquia sofreu recentemente baixas significativas na província rebelde de Idlib, onde enfrenta um Exército sírio com experiência redobrada e com apoio de uma superpotência militar, a Rússia.
Os parceiros árabes de Ancara não expressaram apoio à ofensiva turca e aos poucos normalizam as relações com o presidente sírio, Bashar Assad.
"Agora, ele [Erdogan] está sozinho, combatendo uma superpotência como a Rússia e um Exército sírio experiente [lutando] em território sírio", disse Adbel Bari Atwan, editor-chefe do jornal online Rai al-Youm. "A posição dele é crítica."
Por outro lado, a reunião da OTAN solicitada pela Turquia, após sofrer baixas significativas em Idlib, não terminou com a promessa de auxílio concreto por parte da aliança militar.
"Sete anos atrás, a Turquia era a ponta de lança de uma coalizão que incluía 65 países. Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Qatar apoiaram Erdogan em sua intervenção política e militar na Síria", disse Atwan.
Agora, o especialista acredita que somente o Qatar continua do lado da Turquia no conflito sírio. Os demais países árabes, pelo contrário, estariam buscando normalizar as relações com Damasco.
Mudando de lado
A Jordânia, que havia fornecido apoio aos rebeldes na Síria, anunciou em agosto de 2017 que as suas relações com Damasco estavam "indo na direção certa". Uma semana depois, a Arábia Saudita informou os líderes da oposição que estava se retirando do conflito sírio.
Em dezembro de 2018, os EAU e o Bahrein anunciaram que iriam reabrir as respectivas embaixadas em Damasco. Em março de 2019, os EAU terminam a sua transição, anunciando formalmente o apoio à Assad.
As informações acerca do atual posicionamento da Arábia Saudita no conflito sírio são menos claras. No entanto, o especialista lembra que o relacionamento entre Riad e Ancara ficou seriamente abalado desde o assassinato do jornalista Jamal Kashoggi.
Correlação de forças
Atwan acredita que os países árabes estão seguindo os passos dos EUA e retirando-se da Síria, adotando uma postura realista, considerando a mudança na correlação de forças no conflito.
Essas mudanças teriam sido provocadas pela entrada da Rússia na guerra, pela derrota significativa do Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e demais países) e pela radicalização dos grupos de oposição.
"Os EUA quase se retiraram do conflito e as fações revolucionárias passaram a ceder espaço para grupos islâmicos incluídos na lista de organizações terroristas de Washington", disse Atwan.
Opções limitadas
Atwan acredita que o presidente turco tem duas opções para sair da crise: ou a Turquia cumpre suas obrigações no âmbito do Acordo de Sochi de 2018, o que significa que ela deveria desarmar grupos terroristas na região, ou tem de se retirar de Idlib.
"A interferência contínua de Erdogan na Síria é interpretada como uma invasão e ocupação e não poderá ser mantida no longo prazo", disse Atwan. "Um envolvimento mais profundo [nesse conflito] não irá o beneficiar e ele enfrenta crescente oposição interna, principalmente após a morte de mais soldados [turcos]."
Além disso, caso a Turquia receba mais uma onda de refugiados, as tensões dentro da sociedade civil, que já estão altas, poderiam se agravar.
Abrir as fronteiras e permitir que os refugiados sigam para a Europa pode fazer Ancara perder bilhões de euros que recebe como parte do acordo selado com a União Europeia para a recepção deste tipo de migrantes.
O analista político turco Taha Odehoglu acredita que a Turquia ainda aposta em um acordo com a Rússia, reportou a DW.
"O revés sofrido por Ancara foi doloroso e qualquer passo em falso na sua reação pode ter repercussões sérias para a Turquia", disse Odehoglu. "Ela [Turquia] não quer perder a sua relação com a Rússia."
"Sem dúvida, a Turquia sente que está isolada entre os árabes e os europeus, e mesmo em relação aos americanos [...] mas a porta ainda não está completamente fechada com a Rússia", acredita.
As tensões na província síria de Idlib estão em alta, após 36 soldados turcos terem sido mortos e mais de 30 ficado feridos em consequência de um ataque aéreo.