Segundo o ex-governador de Santa Catarina, o Brasil deveria ter uma embaixada junto aos israelenses, em Jerusalém Ocidental, e outra junto aos palestinos, em Jerusalém Oriental.
"Se o presidente Bolsonaro aceitasse essa recomendação, não tenho dúvida de que seria um candidato natural ao prêmio Nobel da Paz. Que outra ação, em uma causa tão complicada, poderia de maneira mais eloquente representar o respeito aos dois estados e à causa da convivência. Não conheço nenhuma outra", disse em entrevista para a Sputnik Brasil.
Amin defende o "status de Jerusalém como uma cidade não sujeita a um país só". E recordou que, em 1947, o Brasil, por meio do diplomata Oswaldo Aranha, presidiu reunião da Assembleia-Geral da ONU que estabeleceu, na teoria, a partilha da Palestina e a criação de dois estados na região.
'Consequência prática para o que Brasil anunciou'
"Ou seja, isso não é uma invenção minha, é dar consequência prática, inteligência e coerência para aquilo que o Brasil anunciou há setenta e tantos anos na ONU", afirmou.
A intenção do governo brasileiro é transferir sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, seguindo os passos dos Estados Unidos. A iniciativa é repudiada por setores árabes e parte da comunidade internacional, inclusive a ONU.
O plano, no entanto, encontrou resistência e não avançou. Bolsonaro diz que o compromisso está mantido, mas até o momento o governo abriu somente uma representação comercial em Jerusalém.
Preocupado com a situação no Oriente Médio, Amin convidou o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para falar na Comissão das Relações Exteriores do Senado sobre o apoio do Brasil ao "Acordo do Século", proposto pelo presidente estadunidense, Donald Trump, para Israel e Palestina.
Chanceler ratificou apoio ao 'Acordo do Século'
O plano, que prevê a criação de dois estados, não teve participação dos palestinos e foi negociado por Washington apenas com os israelenses. Liderança palestinas e árabes, assim como vários países do mundo, criticaram a proposta.
Araújo compareceu na quinta-feira (5) no Senado e reiterou o apoio do Itamaraty à proposta de Trump.
"Uma reação contrária ao plano é uma perspectiva dogmática apenas, uma repetição de posições anteriores que até hoje não levaram a nada. Pode-se dizer que é uma proposta pragmática, que tenta ver a situação por ângulos diferentes e criar uma dinâmica diferente. O fato de haver uma busca de equilíbrio claro entre a segurança de Israel e a aspiração de um Estado palestino também é fundamental, algo que não ignora as realidades", disse Araújo na ocasião, segundo a Agência Senado.
Amin criticou a postura da diplomacia brasileira em relação ao plano, lembrando que os palestinos não se sentaram à mesa de negociações.
'Brasil foi único país do ocidente' a apoiar plano de Trump
"O Brasil foi o único país do ocidente que manifestou apoio ao plano de paz do Trump. É muito difícil você propor paz para duas pessoas, presente uma só. Aplaudir a iniciativa é compreensiva. Agora, aplaudir as bases do plano é complicado, quando o outro elemento do conflito não está presente", disse o senador.
Para o ex-embaixador e diplomata Marcos de Azambuja, a posição do Brasil foi "precipitada", o acordo de Trump não é um "mapa" para solucionar o conflito e sequer pode ser chamado de plano de paz.
"A manifestação do Itamaraty me parece prematura. Não é um termo de paz, no sentido de não corresponder às propostas e às negociações das partes envolvidas. É uma proposta americana-israelense, feita por dois governos em fase intensa pré-eleitoral", disse à Sputnik Brasil o membro do Conselho Curador do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais).
'Brasil falou cedo demais, enfático demais'
Segundo Azambuja, o governo brasileiro deveria ter se mantido em silêncio cuidadoso e ouvido outros atores" sobre a proposta.
"O Brasil falou um pouco cedo demais, um pouco enfático demais, sobre uma questão de grande complexidade", disse ele.
Sobre a possibilidade de o país ter duas embaixadas em Jerusalém, Azambuja afirmou que a paz passa por um "convívio harmonioso" entre israelenses e palestinos, mas afirmações sobre um possível Nobel são "precipitadas" e "retóricas".
"Vamos agir com mais prudência, com mais cuidado, é preciso contribuir de maneira menos retórica para a paz na região", pediu o diplomata.