Os preços do petróleo para West Texas Intermediate (WTI) e Brent caíram mais de 8% na segunda-feira (16), apesar de uma recuperação temporária depois de uma promessa de Donald Trump na sexta-feira (13) de encher a reserva estratégica de petróleo dos EUA "até o topo", escreve a Sputnik Internacional.
Economistas avaliaram o potencial impacto a médio prazo das medidas do presidente norte-americano sobre o setor energético e a indústria global.
O conselheiro econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, anunciou medidas fiscais totalizando mais de US$ 800 bilhões (R$ 4 trilhões) para apoiar a economia dos EUA durante o surto do coronavírus, como parte de um plano de emergência nacional anunciado por Donald Trump na última sexta-feira (13), enquanto o Dow Jones e os preços do petróleo caíram novamente na segunda-feira (16). Nesse mesmo dia, as ações na bolsa em Wall Street caíram 12%, aguçando o sentimento de crise nos mercados mundiais, relata a revista Time.
Além disso, a administração Trump deverá comprar cerca de 75 milhões de barris de petróleo bruto em uma tentativa de impedir a queda do mercado energético.
Prós e contras das medidas de Trump
Jack Allardyce, analista de petróleo e gás da empresa de serviços financeiros Cantor Fitzgerald Europe, acredita que a decisão de Trump de comprar quantidades consideráveis de petróleo para a Reserva Estratégica de Petróleo (SPR, na sigla em inglês) ainda pode, pelo menos parcialmente, corrigir a situação e "ajudar os produtores de xisto dos EUA atingidos pelo recente colapso dos preços".
"Apesar de não dar nenhuma indicação sobre o calendário, Trump disse que o plano era preencher a SPR 'até o topo'", observa Allardyce. "Mais recentemente, a SPR tinha 635 milhões de barris da capacidade total de 713,5 milhões de barris."
"Embora as perspectivas da procura permaneçam incertas, e a oferta pareça aumentar significativamente após o colapso do pacto de produção da OPEP+, as compras deverão proporcionar alguma sustentação dos preços nas próximas semanas", prevê.
Allardyce diz que o pacote de alívio do coronavírus bipartidário aprovado pela Câmara no início do sábado (14), após horas de conversas entre os democratas e a administração Trump, poderia "contribuir de alguma forma para mitigar o impacto caso o surto continue a médio prazo".
Kevin Dowd, professor de finanças e economia na Escola de Negócios da Universidade de Durham, no Reino Unido, não parece tão otimista como Allardyce. De acordo com ele, a decisão de Trump "de comprar mais petróleo para aumentar a reserva estratégica do país" é "um grande gesto cosmético sonoro".
Ele acrescenta que o plano de Trump de direcionar mais verba para combater o coronavírus "pareceria uma ideia sensata" apenas se for gasta em "coisas sensatas" como "encontrar um antídoto".
"Há dois grandes problemas aqui, o coronavírus e o estímulo. Era de esperar um pacote de estímulos econômicos."
Down diz que os passos dados podem não ser os melhores.
"Essas medidas frequentemente parecem funcionar no curto prazo, aumentando a confiança, mas tendem a ser contraproducentes no longo prazo, porque produzem um governo sempre inchado e não abordam as questões subjacentes de falta de resiliência econômica e o fracasso em implementar a reestruturação econômica radical que a economia dos EUA precisa".
Por sua vez, Yannis Koutsomitis, um analista político e econômico da Bélgica, argumenta que "o pacote [de estímulos] poderia se mostrar suficiente se for agregado a um esquema de refinanciamento da dívida como foi sugerido por Trump no sábado".
No sábado (14), o presidente dos EUA anunciou que gostaria de refinanciar a dívida nacional americana, que atualmente ultrapassa US$ 23,3 trilhões (R$ 116,5 trilhões).
Recessão global não deixa subir os preços do petróleo
Por sua vez, Laurence Kotlikoff, professor de Economia da Universidade de Boston, presume que a reposição das reservas de petróleo anunciada por Trump na sexta-feira (13) "não é um grande fator no mercado mundial".
Ele explica que o "grande fator" aqui é a demanda por petróleo e gás que é projetada cair em meio à desaceleração econômica.
"Não vejo o setor energético se recuperando até o fim desta crise", diz Kotlikoff. "E não vejo nenhum plano de jogo de nenhum governo para realmente controlar isto a longo prazo. Nós não temos um plano para eliminar o problema."
Entretanto, a companhia Goldman Sachs previu que o crescimento real do PIB dos EUA será de 0% no primeiro trimestre, com uma contração de 5% no segundo trimestre, o que aponta para uma recessão a chegar ao país.
Kotlikoff considera que os prognósticos da recessão não são infundados, referindo-se à possibilidade de uma quarentena a nível nacional nos EUA.
"O que isto significa agora é que milhões de pequenas empresas que estão na indústria de serviços irão à falência, e a indústria de varejo e grandes empresas também irão à falência", diz ele. "E assim isto vai causar-lhes uma enorme recessão, talvez uma depressão no nosso país. Depende de quanto tempo durar, mas não temos um plano de jogo para resolver o problema."
Segundo o professor, é apenas metade da história, pois a recessão global já está a caminho, traçando paralelos entre os desenvolvimentos em curso e a crise financeira global de 2008.
"Já está começando. Acho que não vai esperar até julho. Julho é daqui a muitos meses. As recessões começam. Quando as pessoas são demitidas, quando um grande número de empregados é demitido, os trabalhadores são demitidos", observa.
"E se olharmos para 2008, quando o Lehman Brothers desmaiou, foi à falência. A demissão aconteceu em poucas semanas. E demitiram cerca de oitocentos mil [pessoas] até dezembro [de 2008]. Portanto, pode esperar ver isto acontecer muito, muito rapidamente. Eu diria que os anúncios vão provavelmente começar nesta semana."
Ele observa que, caso a vacina contra o vírus seja encontrada em dois meses e todos sejam vacinados, o problema será resolvido. No entanto, de acordo com o acadêmico, esse seria um cenário "milagroso", enquanto a realidade é muito mais difícil.
Ações dos EUA contra o coronavírus
Na sexta-feira (13), o presidente dos EUA declarou uma emergência nacional liberando até US$ 50 bilhões (R$ 250 bilhões) em recursos federais para combater a propagação do coronavírus, e ordenou ao Departamento de Energia que comprasse petróleo cru para a reserva do país.
Após o anúncio, os índices de ações dos EUA voltaram a subir 1,985 ponto na sexta-feira, depois de ter sua maior queda de um dia antes. Os preços do petróleo recuperaram cerca de 5% no mesmo dia, tornando os produtores americanos de xisto mais otimistas em meio à queda dramática dos preços do petróleo bruto, impulsionada pela desaceleração econômica e pelo colapso do acordo da OPEP.
No entanto, no domingo (15), a Reserva Federal dos EUA baixou as taxas de juro para perto de zero e anunciou que iria comprar pelo menos US$ 700 bilhões (R$ 1,43 trilhão) em obrigações do Tesouro. Em resposta, os investidores começaram a despejar as ações dos EUA e a comprar títulos.
Eventualmente, todas as 30 Médias Industriais de Dow Jones (Dow Jones Industrial Average) caíram na negociação de ações pré-comercialização na segunda-feira (16), em meio ao medo de que a pandemia do novo coronavírus possa levar a uma recessão global. De acordo com a InvestingCube, foram os temores de recessão que empurraram os preços do petróleo bruto novamente para baixo na segunda-feira (16).