Medidas de emergência de Trump poderiam levar à queda do mercado global e petróleo?

© REUTERS / Andrew KellyNegociadores trabalham no andar da Bolsa de Nova York (NYSE), nos EUA, em 10 de março de 2020
Negociadores trabalham no andar da Bolsa de Nova York (NYSE), nos EUA, em 10 de março de 2020 - Sputnik Brasil
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Economistas avaliaram o impacto das ações do presidente dos EUA em resposta à COVID-19, sugerindo que não deverão ter impacto positivo a médio prazo.

Os preços do petróleo para West Texas Intermediate (WTI) e Brent caíram mais de 8% na segunda-feira (16), apesar de uma recuperação temporária depois de uma promessa de Donald Trump na sexta-feira (13) de encher a reserva estratégica de petróleo dos EUA "até o topo", escreve a Sputnik Internacional.

Economistas avaliaram o potencial impacto a médio prazo das medidas do presidente norte-americano sobre o setor energético e a indústria global.

O conselheiro econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, anunciou medidas fiscais totalizando mais de US$ 800 bilhões (R$ 4 trilhões) para apoiar a economia dos EUA durante o surto do coronavírus, como parte de um plano de emergência nacional anunciado por Donald Trump na última sexta-feira (13), enquanto o Dow Jones e os preços do petróleo caíram novamente na segunda-feira (16). Nesse mesmo dia, as ações na bolsa em Wall Street caíram 12%, aguçando o sentimento de crise nos mercados mundiais, relata a revista Time.

Além disso, a administração Trump deverá comprar cerca de 75 milhões de barris de petróleo bruto em uma tentativa de impedir a queda do mercado energético.

Prós e contras das medidas de Trump

Jack Allardyce, analista de petróleo e gás da empresa de serviços financeiros Cantor Fitzgerald Europe, acredita que a decisão de Trump de comprar quantidades consideráveis de petróleo para a Reserva Estratégica de Petróleo (SPR, na sigla em inglês) ainda pode, pelo menos parcialmente, corrigir a situação e "ajudar os produtores de xisto dos EUA atingidos pelo recente colapso dos preços".

"Apesar de não dar nenhuma indicação sobre o calendário, Trump disse que o plano era preencher a SPR 'até o topo'", observa Allardyce. "Mais recentemente, a SPR tinha 635 milhões de barris da capacidade total de 713,5 milhões de barris."

"Embora as perspectivas da procura permaneçam incertas, e a oferta pareça aumentar significativamente após o colapso do pacto de produção da OPEP+, as compras deverão proporcionar alguma sustentação dos preços nas próximas semanas", prevê.

Allardyce diz que o pacote de alívio do coronavírus bipartidário aprovado pela Câmara no início do sábado (14), após horas de conversas entre os democratas e a administração Trump, poderia "contribuir de alguma forma para mitigar o impacto caso o surto continue a médio prazo".

© AP Photo / Baderkhan AhmadForças dos EUA patrulham campos de petróleo sírios, 28 de outubro de 2019
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Forças dos EUA patrulham campos de petróleo sírios, 28 de outubro de 2019

Kevin Dowd, professor de finanças e economia na Escola de Negócios da Universidade de Durham, no Reino Unido, não parece tão otimista como Allardyce. De acordo com ele, a decisão de Trump "de comprar mais petróleo para aumentar a reserva estratégica do país" é "um grande gesto cosmético sonoro".

Ele acrescenta que o plano de Trump de direcionar mais verba para combater o coronavírus "pareceria uma ideia sensata" apenas se for gasta em "coisas sensatas" como "encontrar um antídoto".

"Há dois grandes problemas aqui, o coronavírus e o estímulo. Era de esperar um pacote de estímulos econômicos."

Down diz que os passos dados podem não ser os melhores.

"Essas medidas frequentemente parecem funcionar no curto prazo, aumentando a confiança, mas tendem a ser contraproducentes no longo prazo, porque produzem um governo sempre inchado e não abordam as questões subjacentes de falta de resiliência econômica e o fracasso em implementar a reestruturação econômica radical que a economia dos EUA precisa".

Por sua vez, Yannis Koutsomitis, um analista político e econômico da Bélgica, argumenta que "o pacote [de estímulos] poderia se mostrar suficiente se for agregado a um esquema de refinanciamento da dívida como foi sugerido por Trump no sábado".

No sábado (14), o presidente dos EUA anunciou que gostaria de refinanciar a dívida nacional americana, que atualmente ultrapassa US$ 23,3 trilhões (R$ 116,5 trilhões).

Recessão global não deixa subir os preços do petróleo

Por sua vez, Laurence Kotlikoff, professor de Economia da Universidade de Boston, presume que a reposição das reservas de petróleo anunciada por Trump na sexta-feira (13) "não é um grande fator no mercado mundial".

Ele explica que o "grande fator" aqui é a demanda por petróleo e gás que é projetada cair em meio à desaceleração econômica.

© REUTERS / Andrew KellyFuncionário da Bolsa de Nova York (NYSE) na cidade de Nova York, nos EUA, em 11 de março de 2020
Medidas de emergência de Trump poderiam levar à queda do mercado global e petróleo? - Sputnik Brasil
Funcionário da Bolsa de Nova York (NYSE) na cidade de Nova York, nos EUA, em 11 de março de 2020

"Não vejo o setor energético se recuperando até o fim desta crise", diz Kotlikoff. "E não vejo nenhum plano de jogo de nenhum governo para realmente controlar isto a longo prazo. Nós não temos um plano para eliminar o problema."

Entretanto, a companhia Goldman Sachs previu que o crescimento real do PIB dos EUA será de 0% no primeiro trimestre, com uma contração de 5% no segundo trimestre, o que aponta para uma recessão a chegar ao país.

Kotlikoff considera que os prognósticos da recessão não são infundados, referindo-se à possibilidade de uma quarentena a nível nacional nos EUA.

"O que isto significa agora é que milhões de pequenas empresas que estão na indústria de serviços irão à falência, e a indústria de varejo e grandes empresas também irão à falência", diz ele. "E assim isto vai causar-lhes uma enorme recessão, talvez uma depressão no nosso país. Depende de quanto tempo durar, mas não temos um plano de jogo para resolver o problema."

Segundo o professor, é apenas metade da história, pois a recessão global já está a caminho, traçando paralelos entre os desenvolvimentos em curso e a crise financeira global de 2008.

"Já está começando. Acho que não vai esperar até julho. Julho é daqui a muitos meses. As recessões começam. Quando as pessoas são demitidas, quando um grande número de empregados é demitido, os trabalhadores são demitidos", observa.

"E se olharmos para 2008, quando o Lehman Brothers desmaiou, foi à falência. A demissão aconteceu em poucas semanas. E demitiram cerca de oitocentos mil [pessoas] até dezembro [de 2008]. Portanto, pode esperar ver isto acontecer muito, muito rapidamente. Eu diria que os anúncios vão provavelmente começar nesta semana."

© AP Photo / Richard DrewBolsa de valores de Nova York (foto de arquivo)
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Bolsa de valores de Nova York (foto de arquivo)

Ele observa que, caso a vacina contra o vírus seja encontrada em dois meses e todos sejam vacinados, o problema será resolvido. No entanto, de acordo com o acadêmico, esse seria um cenário "milagroso", enquanto a realidade é muito mais difícil.

Ações dos EUA contra o coronavírus

Na sexta-feira (13), o presidente dos EUA declarou uma emergência nacional liberando até US$ 50 bilhões (R$ 250 bilhões) em recursos federais para combater a propagação do coronavírus, e ordenou ao Departamento de Energia que comprasse petróleo cru para a reserva do país.

Após o anúncio, os índices de ações dos EUA voltaram a subir 1,985 ponto na sexta-feira, depois de ter sua maior queda de um dia antes. Os preços do petróleo recuperaram cerca de 5% no mesmo dia, tornando os produtores americanos de xisto mais otimistas em meio à queda dramática dos preços do petróleo bruto, impulsionada pela desaceleração econômica e pelo colapso do acordo da OPEP.

No entanto, no domingo (15), a Reserva Federal dos EUA baixou as taxas de juro para perto de zero e anunciou que iria comprar pelo menos US$ 700 bilhões (R$ 1,43 trilhão) em obrigações do Tesouro. Em resposta, os investidores começaram a despejar as ações dos EUA e a comprar títulos.

Eventualmente, todas as 30 Médias Industriais de Dow Jones (Dow Jones Industrial Average) caíram na negociação de ações pré-comercialização na segunda-feira (16), em meio ao medo de que a pandemia do novo coronavírus possa levar a uma recessão global. De acordo com a InvestingCube, foram os temores de recessão que empurraram os preços do petróleo bruto novamente para baixo na segunda-feira (16).

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