Por outro lado, a pandemia da COVID-19, nome da doença provocada pelo vírus, alçou ao protagonismo político um ministro até então discreto, Luiz Henrique Mandetta, que vem tendo desempenho elogiado até por críticos do governo.
Segundo o deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ), o ministro da Saúde "tem tido uma atuação técnica positiva, que destoa dos outros ministros e do presidente".
"Ele tem assumido um papel de liderança essencial num momento de crise, deixando as pessoas informadas", afirmou o parlamentar à Sputnik Brasil.
'Sabotado pelo presidente'
"Acho que por isso está sendo sabotado pelo presidente", opinou o deputado. Segundo matéria publicada na Folha de S.Paulo, Bolsonaro estaria cobrando de Mandetta um discurso mais afinado ao seu.
Nos primeiros momentos da pandemia, o chefe de Estado disse que havia uma "histeria" sobre o coronavírus e que o problema estava sendo "superdimensionado". Depois, passou a reconhecer a gravidade da situação.
O especialista em infectologia e saúde pública Gerson Salvador disse que o Ministério da Saúde e Mandetta "têm divulgado os casos de coronavírus de maneira bastante transparente, tomando medidas baseadas em evidências e suportadas pela equipe técnica, que é bastante competente".
"As campanhas de higiene das mãos e para desmitificar fake news são todas razoáveis e em acordo com o que outros países têm feito, com diferentes graus de sucesso. Estamos vivendo uma pandemia, a própria OMS [Organização Mundial da Saúde] diz que não é possível evitar que o vírus circule, as estratégias são para mitigar os efeitos do vírus", disse à Sputnik Brasil.
'Travados pela postura do Bolsonaro'
Mas para o ex-ministro da Saúde e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), a pasta e seu ministro "estão travados pela postura de Bolsonaro, que trata a pandemia do coronavírus como se fosse uma fantasia, como ele mesmo disse, ou uma histeria de governadores e profissionais da área de saúde".
"Diariamente o Ministério e Mandetta têm que apagar incêndios provocados pelo presidente Bolsonaro", disse Padilha à Sputnik Brasil.
Para o petista, o comportamento do presidente faz com que o governo não consiga disponibilizar mais leitos em hospitais, colocar mais médicos em unidades de saúde básica e reforçar a capacidade de realização de diagnósticos e de acesso aos medicamentos.
'Psicopatia do presidente'
Se elogia o ministro da Saúde, Calero disse que Bolsonaro tem se mostrado um "completo inútil" diante do quadro atual, crise que demonstraria sua "total incapacidade".
"A situação mostra a psicopatia do presidente, ele não suporta ninguém que possa lhe fazer sombra. Quem tem visões diferentes da dele é alvejado. Não está preocupado com questões técnicas, está preocupado com o poder, quer politizar a situação. Vê que o Mandetta é respeitado e se incomoda", afirmou o ex-mininstro da Cultura.
"Na crise os lideres crescem. Todos os defeitos que as pessoas não viam em Bolsonaro durante a campanha e durante o primeiro ano de mantado estão sendo revelados", acrescentou.
Alexandre Padilha, por sua vez, argumentou que Bolsonaro está ficando "isolado da sociedade", e também considerou que não tem capacidade de "liderança".
"Bolsonaro não respeita o isolamento sanitário que lhe é estabelecido, e acaba abraçando um isolamento político e social. Cada vez mais, só consegue liderar para sua base mais fundamentalista, terraplanista, obscurantista, não dá conta de liderar o país nesse momento grave do ponto de vista econômico e sanitário, que exige uma liderança que agregue o pais, que lidere os atores econômicos e sociais para o enfrentamento dessa crise", criticou Padilha.
'Está atrapalhando'
O infectologista Gerson Salvador concorda com o argumento de que o presidente tem atrapalhado na gestão da pandemia do coronavírus.
"Não é que ele pode atrapalhar, ele está atrapalhando. Está sendo absolutamente irresponsável, quando menospreza os efeitos da pandemia nas suas redes sociais e ao ter ido em um ato público quando o Ministério da Saúde recomendou que as pessoas evitassem aglomerações", disse o especialista.