O governo norte-americano continua investindo na militarização do espaço em vez de combater emergências de saúde pública como a COVID-19, disseram Karl Grossman, professor de jornalismo na Universidade Estadual de Nova York e na Faculdade de Old Westbury, e Bruce Gagnon, coordenador da Rede Global Contra Armas e Energia Nuclear no Espaço (Global Network Against Weapons & Nuclear Power in Space), à Sputnik Internacional.
"É completamente ultrajante", comentou Grossman, observando que os EUA não têm máscaras suficientes para o número de portadores de coronavírus que vão precisar deles.
Os hospitais dos EUA também não têm camas suficientes nas unidades de terapia intensiva, tendo sido tomadas medidas de distanciamento social para evitar que muitos americanos fiquem hospitalizados ao mesmo tempo.
"Entretanto, a Força Espacial Americana acaba de receber sua primeira nova arma ofensiva. Aqui, em meio a uma epidemia, uma praga, vão ser necessários pesquisadores para salvar vidas", explicou Grossman.
"Enormes quantias de dinheiro estão sendo canalizadas. US$ 15 bilhões (R$ 76,5 bilhões) é o orçamento da Força Espacial que Trump pede para o próximo ano, [valor] simplesmente desperdiçado", continua.
Atividades da Força Espacial dos EUA
Na semana passada, a Força Espacial dos EUA começou a operar um novo sistema de armas ofensivas: uma versão melhorada do sistema terrestre de bloqueio de comunicações via satélite, usado para bloquear as transmissões de satélite adversárias.
O chamado Sistema de Contra Comunicações (Counter Communications System) foi introduzido na Força Aérea dos EUA em 2004. A versão atualizada, chamada CCS Block 10.2, atingiu a capacidade operacional inicial em 9 de março, e agora é operada pela Força Espacial.
Além do sistema de interferência de satélite, o Pentágono passou anos trabalhando em armas laser para o espaço.
"Eles estão trabalhando no Pentágono no desenvolvimento de uma arma laser para o espaço desde os anos 80 [...] eles a chamaram de Iniciativa de Defesa Estratégica", disse Gagnon.
"Mas ao longo dos anos, eles injetaram muito dinheiro no programa. Têm um sonho de longa data de colocar em órbita satélites alimentados por reatores nucleares que forneceriam a enorme potência necessária para disparar um laser através do espaço que destruiria os satélites de outros países e que atingiria alvos na Terra".
"No Pentágono, chamavam a esse programa em particular Estrela da Morte. Significa que, de fato, eles estão realmente indo nessa direção há muito tempo", revelou o coordenador da Rede Global Contra Armas e Energia Nuclear no Espaço.
Gastos militares norte-americanos
Um artigo publicado no domingo (15) por Lawrence Wittner, professor emérito de História da Universidade Estadual de Nova York em Albany, explica como os gastos militares dos EUA "já superam os gastos combinados das sete seguintes potências militares em todo o mundo" [China, Rússia, Arábia Saudita, Índia, Reino Unido, Alemanha e França].
O artigo também relata como o "orçamento de Trump adicionaria bilhões de dólares às dotações militares anuais dos EUA, elevando-as para US$ 741 bilhões [R$ 3,78 trilhões]."
"Muitos americanos podem pensar que os gastos militares dos EUA são equivalentes aos da Rússia ou da China [...] Os gastos militares dos EUA já ultrapassam os gastos combinados das sete potências militares em todo o mundo. E neste momento são de US$ 648 bilhões [R$ 3,3 trilhões]. É com esta proposta de orçamento que Trump revela seus valores", explicou Grossman.
Bruce Gagnon também criticou a ganância dos homens em seu país.
"Uma coisa que sabemos por causa da tecnologia espacial é que os astronautas que partiram, sejam eles russos, americanos ou de qualquer outro país, e olham para trás, para esta Terra, eles não veem essas barreiras e fronteiras, línguas e etnias."
"Tudo o que eles veem é este lindo e pequeno planeta chamado Terra voando através do espaço. E nele somos todos parentes. Estamos todos em uma família [...] mas nosso país está tão cego por esta ganância, tão cego por essa ganância de poder", concluiu.