No início da propagação do novo coronavírus, a comunidade científica concentrou seus esforços na prevenção e tratamento de pacientes com mais de 70 anos, ou de pessoas com doenças crônicas. Mas novas informações sugerem que o novo coronavírus pode também se manifestar de forma severa em pessoas mais jovens.
Apesar de jovens e crianças saudáveis apresentarem, em sua maioria, sintomas leves de COVID-19, o professor de virologia molecular Jonathan Ball alerta para o papel fundamental desse grupo na propagação do novo coronavírus.
Para ele, uma das diferenças fundamentais entre a COVID-19 e epidemias anteriores, como a SARS ou a MERS, é que o novo coronavírus pode gerar sintomas muito leves em algumas pessoas, o que torna mais difícil o seu diagnóstico.
A SARS e a MERS, por outro lado, avançavam para um quadro de pneumonia rapidamente, facilitando o processo de identificação e isolamento de pacientes, escreveu o professor no The Guardian.
"Assim como muitos de meus colegas, eu não veria nenhum motivo claro pelo qual crianças não se infectariam pelo coronavírus", escreveu.
Para ele, muitas crianças provavelmente foram infectadas pelo novo coronavírus, mas, por apresentarem sintomas leves, não obtiveram diagnóstico.
O estudo mais abrangente realizado sobre os efeitos da COVID-19 em crianças até agora foi realizado na China. Ao analisar 2.000 casos confirmados ou suspeitos de COVID-19 em crianças, o estudo apontou que mais de 50% das crianças apresentaram sintomas leves, análogos aos de um resfriado, ou permaneceram assintomáticas.
Em torno de 5% das crianças infectadas pelo novo coronavírus desenvolveram doenças graves, nas quais o nível de oxigênio do sangue é reduzido drasticamente e órgãos entram em risco de falência.
Esse estudo tem diversas lacunas, a principal delas é a de incluir casos suspeitos de coronavírus em suas estatísticas, mas fornece evidências de que a maioria das crianças irá apresentar sintomas leves caso sejam infectadas pelo novo coronavírus.
Conforme a pandemia se torna mais grave, cientistas atestam que focar somente em pacientes idosos ou com doenças previamente existentes pode ser uma simplificação grosseira.
Dados de infecções em jovens e crianças provavelmente estão subestimando o número de infectados, o que facilitaria o papel deste grupo de vetores de propagação do novo coronavírus.