Apesar das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a importância de medidas de isolamento social para minimizar os efeitos do coronavírus, Bolsonaro tem apostado na direção contrária do consenso científico. O presidente defende que a COVID-19 é apenas uma "gripezinha" e critica os governadores por implantarem práticas de quarentena.
"Alguns vão morrer, vão morrer, lamento, é a vida. Não pode parar uma fábrica de automóveis porque tem mortes no trânsito", falou Bolsonaro em entrevista para o Brasil Urgente, da Band, na sexta-feira (27).
A cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), avalia que o presidente tenta fazer com que a crise econômica que será criada pela pandemia seja associada aos governos estaduais.
"Ele está jogando com algo que é seríssimo. Se muitas pessoas morrerem, ele não vai ter como se cacifar, mesmo jogando eleitoralmente, ou seja, ele está assinando embaixo também sua sentença de morte", diz Braga à Sputnik Brasil.
Projeção do Imperial College prevê que caso o Brasil não adote nenhuma medida de isolamento social, a COVID-19 pode causar mais de um milhão de mortos no país. Já a previsão com medidas de afastamento social e testes massivos prevê 44,3 mil mortes.
Apesar da movimentação de Bolsonaro, Braga ressalta que o governador de São Paulo, João Doria, tem se fortalecido com os embates contra o presidente. "Doria se fortaleceu, ele foi para a linha de frente com esse último debate que a gente ouviu, tomando um posicionamento mais agressivo e propositivo em relação à crise", diz a professora da UFSCar.
O líder tucano afirmou que Bolsonaro precisa "dar o exemplo" e tem sido um crítico vocal do Governo Federal.
Além do posicionamento de Doria, a cientista política também destaca a atuação do governador de Goias, Ronaldo Caiado, e do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, como contraposição às medidas do Palácio do Planalto.