Em meio à recusa na prática dos EUA e UE para cumprir os acordos no quadro das suas alianças, a Rússia, a China e Cuba estão mobilizando-se e demonstrando solidariedade para ajudar o mundo a enfrentar a pandemia, diz Mehmet Ali Guller, um conhecido jornalista e analista político turco.
Segundo Guller, esta crise irá acelerar o processo de criação de um novo mundo multipolar, em que nada ficará igual ao que era antes.
"A pandemia de Covid-19 revelou toda a complexidade da situação humanitária no mundo. Enquanto os Estados Unidos e os países da UE fecharam suas fronteiras entre si, a Itália, o membro da UE mais afetado pela epidemia, foi ajudada por países como a China, a Rússia e Cuba. Na minha opinião, há duas explicações para isso", explica à Sputnik Turquia.
"Em primeiro lugar, em certos momentos críticos, fica claro que os países considerados desenvolvidos não o são na realidade. Em segundo lugar, existem diferenças fundamentais entre os Estados Unidos e os países da UE, que afirmam que 'o lucro está em primeiro lugar', e outros países, que colocam a saúde e os interesses das pessoas em primeiro lugar."
Razões da divergência no comportamento
O especialista tentou entender a razão pela qual o mundo ocidental e outros países reagiram de formas tão diferentes.
"O que impele a China, Cuba e Rússia a ajudar a Itália, enquanto os países do G7 e da UE não a apoiam? Não é necessário recorrer a uma análise longa, a China e Cuba são países socialistas, enquanto a Rússia, embora não o seja mais, mantém certas características que recebeu como herança da URSS", afirmou.
Mehmet Guller referiu que a "pequena" Cuba, que resiste ao embargo imperialista dos EUA, "demonstrou como ela é forte". Também aceitou receber um navio inglês que outros países não deixaram entrar devido à presença do coronavírus entre passageiros a bordo.
"O sistema capitalista não é capaz de resolver problemas em condições de emergência, uma vez que se concentra principalmente na obtenção de lucros", afirma o analista.
Os Estados que vivem no âmbito desse sistema podem ter feito avanços tecnológicos, criando as armas e mísseis avançados, mas não têm máscaras nem aparelhos de respiração artificial para seus próprios cidadãos, realçou.
"Em contrapartida, o sistema socialista parte da ideia que seu bem-estar é antes de mais o das pessoas, da nação, da sociedade, e em situações de emergência como esta são tomadas todas as medidas necessárias para as proteger.
"Por exemplo, vemos que a China e a Rússia entregaram material médico a muitos países, incluindo os Estados Unidos", explicou Guller.
A viragem internacional
Segundo ele, a epidemia provou mais uma vez que a liderança mundial dos EUA ficou no passado, enquanto o globalismo neoliberal falhou.
"Basta olhar para as declarações dos governadores dos maiores estados norte-americanos. Eles apontam tanto para a natureza cruel do capitalismo como para sua impotência face a esta nova ameaça", diz.
"No meu livro 'Fim da Hegemonia Americana' eu analisei os acontecimentos econômicos, políticos e militares desde os anos 2000, falei sobre a formação do novo mundo e, apresentando dados específicos, assinalei que atualmente está em curso o processo de criação de uma ordem mundial multipolar."
A atual epidemia apenas irá acelerar o processo, relançando "a noção de Estados-nação" e "pondo fim à ideia de globalização", opina.
"É de notar que tem havido um debate ativo nos EUA, ao longo da última semana, em que altos responsáveis da administração dos EUA apelaram a Trump para estabelecer uma cooperação com a China. Eles compreendem que, sem uma cooperação com a China, os EUA não têm qualquer hipótese de sair desta crise em grande escala, nem eles próprios, nem seus aliados", afirma.
"Estas realidades irão acelerar a formação de um mundo multipolar. Nestas condições, atores eurasiáticos influentes, tais como a Rússia, a China, a Índia, poderão formar um novo equilíbrio de poder e um sistema que substituirá o modelo eurocêntrico", concluiu Guller.