O que explica escala do coronavírus no país mais rico do planeta?

© REUTERS / Andrew KellyUm homem com máscara e um médico durante o surto de coronavírus em Nova York, EUA
Um homem com máscara e um médico durante o surto de coronavírus em Nova York, EUA - Sputnik Brasil
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Os Estados Unidos contam com uma grande quantidade de profissionais capacitados, porém, já têm mais de 240 mil casos confirmados de infecção por coronavírus.

Os Estados Unidos já somam mais de 6 mil falecidos e mais de 245 mil casos de contágio pelo coronavírus, sendo o país com o maior número de infectados a nível mundial. No começo de março, após meses tentando demonstrar que o país estava preparado para enfrentar a pandemia, o presidente Donald Trump finalmente admitiu que o contágio não está "sob controle", tanto em seu país como no exterior.

© REUTERS / Tom BrennerPresidente dos EUA, Donald Trump, em frente a gráfico intitulado "Metas de Mitigação Comunitária" mostrando as mortes projetadas nos EUA em meio à pandemia, durante briefing diário de resposta ao coronavírus na Casa Branca em Washington, EUA, em 31 de março de 2020
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Presidente dos EUA, Donald Trump, em frente a gráfico intitulado "Metas de Mitigação Comunitária" mostrando as mortes projetadas nos EUA em meio à pandemia, durante briefing diário de resposta ao coronavírus na Casa Branca em Washington, EUA, em 31 de março de 2020

Por que a pandemia se tornou tão intensa no país mais rico do mundo e que erros foram cometidos na hora de enfrentá-la?

Meses perdidos

Em primeiro lugar, entre o final de janeiro e princípio de março, quando o vírus já estava se propagando da China aos EUA, não se realizaram testes em grande escala de pessoas que poderiam ter sido infectadas devido a falhas técnicas, obstáculos regulatórios, burocracia e falta de liderança em múltiplos níveis, segundo mais de 50 funcionários da saúde pública atuais e anteriores, fontes da Administração norte-americana, cientistas de alto nível e executivos de empresas entrevistados pelo New York Times.

Entre outros problemas, os primeiros kits de testes desenvolvidos pelos Centros para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos EUA eram defeituosos. Quando as falhas se tornaram evidentes em fevereiro, o diretor da agência, Robert Redfield, prometeu uma solução rápida, mas esta levou algumas semanas para chegar.

Por sua parte, o setor privado, que deveria ajudar com exames de diagnósticos massivos, se deparou com obstáculos burocráticos devido às regulações da Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA, na sigla em inglês) dos EUA.

"O resultado foi um mês perdido, quando o país mais rico do mundo, armado com alguns dos cientistas e especialistas em doenças infecciosas mais capacitados, desperdiçou sua melhor oportunidade de conter a propagação do vírus", indica o jornal, acrescentando que os EUA ficaram "em grande medida cegos quanto à escala de uma catástrofe iminente para a saúde pública".

Burocracia

Outros problemas na hora de enfrentar a pandemia estão relacionados à burocracia. O secretário da Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unido, Alex Azar, preside a um comitê que está tecnicamente encarregado de implementar a Estratégia Nacional de Biodefesa do país, o que inclui a coordenação das agências federais para o monitoramento, prevenção e resposta a crises como a do novo vírus.

No entanto, uma auditoria do Escritório de Responsabilidade Governamental realizada em fevereiro de 2020 descobriu que o Departamento de Saúde não pôde reunir eficazmente os recursos do governo federal, e que os representantes de várias agências federais "expressaram relutância" a realocar recursos para uma missão ampla.

Asha George, ex-oficial de inteligência do Exército norte-americano e diretora executiva da Comissão Bipartidária de Biodefesa dos Estados Unidos, explica em uma entrevista ao Task & Purpose que colocar o Departamento de Saúde a cargo da Estratégia Nacional de Biodefesa "foi um erro", já que "um departamento realmente não pode dizer a outro o que fazer".

Escassez de reservas e advertências ignoradas

O fato de que os Estados Unidos não estavam preparados para a crise não deveria surpreender o Departamento de Saúde. Uma série de exercícios realizados entre janeiro e agosto de 2019 simularam a propagação de um vírus vindo da China aos EUA, que deixaria quase 110 milhões de cidadãos infectados.

Os resultados dos exercícios, divulgados pelo New York Times em fevereiro, previam "confusão" e "caos burocrático" na resposta à crise, com fricções entre os governos estaduais e federal, assim como entre outras entidades do país, sobre questões que vão desde a escassez de equipamentos até às pautas para o distanciamento social.

A simulação revelou também a "incapacidade para repor rapidamente certos fornecimentos médicos, dado que grande parte do produto vem do exterior", um fenômeno que os EUA estão experimentando atualmente.

"Qualquer desastre, passe o que passar, revela nossas vulnerabilidades", defende Asha George. "Os EUA não estavam preparados para um evento biológico como a propagação da COVID-19", comenta a norte-americana.

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