A Suécia é frequentemente apontada como um país excepcional quanto a indicadores sociais, segurança e qualidade de vida. No entanto, em meio à pandemia de COVID-19, o país escandinavo é também exceção por ser um dos únicos na Europa a não impor quarentena nacional.
Apesar dos 6.443 casos de COVID-19 confirmados na Suécia e 373 vítimas fatais, os moradores da capital, Estocolmo, continuam indo a restaurantes e mandando seus filhos para a escola.
A abordagem "liberal" de combate ao novo coronavírus adotada pela Suécia, que visa minimizar a perturbação da vida social e econômica, no entanto, é alvo crescente de críticas.
"Não temos escolha, temos que fechar Estocolmo agora", disse Cecilia Soderberg-Naucler, professora de Patogênese Microbiana no Instituto Karolinska.
Sodeberg-Naucler faz parte de um grupo de 2.300 acadêmicos que assinaram uma carta aberta ao governo pedindo medidas mais enérgicas de combate à COVID-19.
"Precisamos controlar essa situação, não podemos deixar que ela chegue a uma situação de caos. Ninguém ainda tentou esse caminho, então por que teríamos que testá-lo pela primeira vez na Suécia, sem haver consentimento embasado?", questiona a professora.
Nesta sexta-feira (3), a Suécia confirmou 612 casos em 24 horas, alcançando a marca de 6.000 casos de COVID-19. De acordo com a Agência de Saúde da Suécia, a média de mortes diária é de 25 a 30 pacientes.
'Tempestade' em Estocolmo
Existem sinais de que o novo coronavírus esteja se espalhando rapidamente em asilos na capital sueca. Agentes de saúde reportaram escassez de material adequado de proteção pessoal para combater a pandemia, conforme reportou a Reuters.
O primeiro-ministro Stefan Lotven, em conferência de imprensa nesta semana, discordou de que o aumento de casos em asilos seja um sinal de que a estratégia de seu governo esteja errada.
"Não acho que haja sinais disso. É assim que as coisas estão na Europa inteira", disse o primeiro-ministro. "Dissemos sempre que as coisas vão piorar antes de melhorarem".
A estratégia sueca é focada no isolamento e tratamento de doentes, ao invés de impor quarentena generalizada. O país tem um sistema de saúde desenvolvido e alto número de médicos per capita.
Foram adotadas medidas de contenção como a proibição de reuniões com mais de 50 pessoas, ensino à distância em universidades e foi pedido para que os cidadãos evitem viagens não essenciais.
O epidemiologista chefe da Agência de Saúde da Suécia, Anders Tegnell, questionou a eficácia da quarentena.
"É importante ter uma política que possa ser mantida durante longos períodos, o que significa ficar em casa se você estiver doente", disse Tegnell.
"Trancar as pessoas em casa não vai funcionar no longo prazo", ele disse. "Mais cedo ou mais tarde, as pessoas começarão a sair de qualquer forma."
O número total de casos de COVID-19 no mundo ultrapassa 1 milhão e 200 mil. Mais de 64 mil pessoas faleceram em consequência do vírus. Os países com maior número de casos são os EUA, Espanha e Itália.