Enquanto a pandemia se espalha pela Espanha alcançando números recordes de infectados, Alberto García Palomo, jornalista da Sputnik Mundo, disse como surgiram os primeiros sintomas da doença, apesar de não saber como contraiu o coronavírus.
Febre
"O certo é que começou com uma ligeira dor de cabeça. A típica moléstia que te perturba, mas não te imobiliza. Depois veio a febre, marcando 38,3° na quarta-feira 18 de março, três dias depois do início do estado de alarme", declarou Palomo em artigo da Sputnik Mundo.
Com o passar do tempo, a temperatura de seu corpo voltou ao perigo beirando os 39°, dando sinal de que algo estranho estava incubando em seu corpo. Mesmo assim, Palomo ainda conseguia ler livros, preparar entrevistas, crendo que tudo não passava de um alarme falso: dias antes sua esposa havia tido sintomas semelhantes durante algumas horas que terminaram em uma melhora iminente.
Contudo, os sintomas não diminuíram de gravidade.
"Cada hora que passava se acentuava a doença. A febre se tornou constante na casa dos 39°. Não baixava. O olfato e o paladar desapareceram, assim como o apetite. De repente minha rotina virou ficar em posição horizontal", afirmou.
Além da febre, Palomo começou a sentir dores nos ossos, a cabeça rebentava, suores e tremores.
Enquanto isso, seu estado não lhe permitia engolir nada e sua desidratação crescia.
Por outro lado, ele tentava tomar remédios receitados pelos serviços de emergência de Madri.
Perda de consciência e ida ao hospital
Para amenizar os efeitos da COVID-19, Palomo decidiu banhar-se com água morna, o que trazia certo alívio por algumas horas.
Contudo, em dado momento, ele chegou a perder a consciência, retornando ao estado normal segundos depois, em meio a "gritos da esposa, que me encontrou inerte, convulsionando e com aspecto pálido".
Desta forma, o jornalista decidiu se dirigir ao Hospital Infanta Leonor, em Madri, o que foi precedido por uma experiência pouco agradável com o serviço de saúde pública local durante conversa telefônica.
"Uma voz de tédio evitou qualquer explicação. Interrompeu as queixas com um discurso mecânico, esclarecendo que era uma doença de 14 dias de duração e que [eu] tinha que resistir. Não deu chance de responder e desligou sem me escutar. Foi o pior e único maltrato do corpo sanitário", declarou.
No hospital, exames mostraram que Palomo tinha pneumonia nos dois pulmões.
"Além do mais a pressão era alta, com uma frequência cardíaca de 89 pulsações por minuto, e a concentração do oxigênio no sangue descia abaixo dos 90%, o que é chamado de hipoxemia", afirmou.
Enquanto isso, o hospital enfrentava grandes filas para atendimento, exigindo dos pacientes muito tempo na espera dos exames.
"Eram oito da noite e alguns se aproximavam ao atendimento para dizer que levavam mais de 24 horas esperando", acrescentou.
Ainda de acordo com Palomo, um dos pacientes na espera apresentou piora, e sua inicial pneumonia evoluiu para uma embolia pulmonar.
Internação
Apresentando piora, os médicos de Infanta Leonor decidem pela internação de Palomo. Contudo, o grande número de doentes gerou uma grande falta de camas.
Enquanto isso, diversas amostras de sangue foram feitas enquanto esperava por um leito.
A internação também foi marcada por inúmeras transferências de quarto e os lamentos e gritos de outros pacientes.
"Um deles [dos pacientes] ficou o tempo todo ofegando, chamando a gritos a equipe médica e alertando que tinha diarreia", contou.
Com tudo, Palomo também recebeu o consolo de outro paciente, médico em Madri.
Melhora e alta médica
Após dias de internação, o paciente apresentou redução da febre. Além disso, sua respiração começou a se normalizar, dependendo ainda menos dos aparelhos respiratórios artificiais.
"Depois de ficar o tempo todo confinado, voltei a minha casa. Tiraram-me o soro do braço e me deixaram me lavar e colocar roupa de rua. [Depois] me aplaudiram quando saí do quarto", detalhou.