Com uma inadimplência de aproximadamente R$ 169 milhões, o Brasil tem, entre os países membros, a quarta maior dívida com a OMS. Segundo o organismo da ONU, o governo de Jair Bolsonaro não pagou as duas últimas contribuições regulares, referentes aos anos de 2019 e 2020, que deveria ter feito como país membro.
Os últimos pagamentos foram feitos em 2019 e eram referentes à dívidas contraídas durante a gestão do presidente Michel Temer.
Sem levar em conta o aspecto financeiro, o chanceler Ernesto Araújo já declarou não considerar que o combate à pandemia da COVID-19 deva partir de orientações da OMS. Além disso, o núcleo do governo Bolsonaro tem demonstrado desagrado público com as determinações da organização internacional em época de crise na saúde.
Dessa forma, será que a inadimplência brasileira junto à OMS seria uma forma de demonstrar o desagrado das autoridades com as políticas da entidade, ou o comportamento de Brasília seria um reflexo da posição do governo Trump, que ameaçou suspender a transferência de suas contribuições para a organização?
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— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) April 8, 2020
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O economista José Carlos de Assis, professor aposentado de Economia Política e de Relações Internacionais da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba) e autor de mais de 25 livros sobre Economia e Ciências Políticas, não acredita que a dívida brasileira tenha relação com a atual crise da COVID-19.
O cientista argumentou em entrevista para Sputnik Brasil que a decisão de adiar os pagamentos foi adotada ainda em 2019, quando "ainda não tinha a pandemia e não tinha o sentido lógico dele [Bolsonaro] fazer uma retaliação".
O especialista acredita ser mais provável a versão de um alinhamento automático do governo Bolsonaro com o presidente norte-americano Donald Trump, "até porque Trump começou a atuar de forma agressiva em relação à OMS antes da pandemia".
"É uma tentativa de fazer um aliado de qualquer forma. Essa coisa serviçal e horrorosa. Nunca aconteceu antes na economia e sociedade brasileira um presidente se ajoelhar em frente ao outro de forma mais humilhante possível", disse José Carlos de Assis.
O acadêmico destacou que Bolsonaro sempre foi explícito em sua admiração pela maior economia do mundo e, em diversas ocasiões, manifestou seu encanto com o poderio militar estadunidense.
"É próprio desse tipo de servilismo adotar uma atitude nas relações internacionais dessa forma que foi feito, agredindo a própria história da diplomacia brasileira", lamentou o entrevistado.
Para ele, o fato do Brasil estar inadimplente junto à OMS reflete a posição ideológica do atual governo, o que não seria uma surpresa, visto que Bolsonaro quis até "fazer guerra contra a Venezuela", sendo dissuadido disso pelo comando militar.
Nesse contexto, para o economista, a posição do presidente brasileiro não seria uma novidade.
"Há uma antipatia do governo Bolsonaro em relação à organizações internacionais. Ele segue em linha com Trump. Ele consulta, provavelmente, o governo americano para fazer certas coisas. E mesmo onde o governo americano, por outras razões, não implementa medidas de retaliação, como no caso da OMS, Bolsonaro vai atrás. Somos servos do imperialismo americano, como se dizia antigamente. Esse é o governo que temos", concluiu.