Em 12 de abril, Rússia, Arábia Saudita e EUA acordaram com outros produtores mundiais de petróleo grandes cortes na produção em resposta a uma queda drástica de preços do petróleo bruto causada pela pandemia do coronavírus e por dumping de Riad.
Em resultado, 23 países aderiram ao acordo da OPEP+ para cortar a produção de petróleo bruto em um recorde de 9,7 milhões de barris por dia – o que equivale a cerca de 10% da produção global – durante os meses de maio e junho de 2020. Os cortes gradualmente decrescentes permanecerão em vigor até 1º de maio de 2022.
Problema do petróleo de xisto
A decisão de avançar com mais cortes foi tomada em 9 de abril, mas o México manifestou reservas, o que chegou a fazer surgir o receio de que o acordo fosse inviabilizado.
Intervenção dos EUA permitiu resolver o diferendo entre sauditas e mexicanos no tocante aos cortes, tendo os mercados globais de energia reagido imediatamente, com o preço do petróleo subindo com a iminência do fecho do acordo.
Não obstante a acordada redução recorde da produção, o mercado continua inundado de petróleo, segundo James L. Williams, presidente da WTRG Economics, uma consultoria de gestão empresarial sediada no Arkansas (EUA), que prevê que os preços continuarão a cair abaixo de US$ 20 (R$ 102,94) por barril.
"O consumo caiu em cerca de 30 milhões de barris por dia, ou talvez mais", afirma Williams, acrescentando que "tudo o que a queda na produção vai fazer é desacelerar a acumulação recorde de armazenamento, e à medida que o armazenamento for preenchido haverá mais pressão para descida do preço do petróleo", disse ele à Sputnik International.
O especialista econômico observa que "na semana que terminou em 3 de abril os estoques de petróleo e produtos americanos cresceram em 33 milhões de barris", com metade do aumento sendo de petróleo e metade de derivados.
"Além disso, o consumo [atual] de 14,4 milhões barris por dia é 5,9 milhões menor que o do ano passado. Os EUA consomem cerca de 20% do petróleo mundial, e se a queda em outros países for proporcional, o consumo mundial cairá 29,5 milhões de barris por dia. O próximo relatório mostrará uma grande queda no consumo de petróleo", garantiu Williams.
O consultor observa que, apesar dos cortes, "os preços estão muito baixos para manter o crescimento da produção de petróleo de xisto", prevendo que "os EUA assistirão a quedas substanciais com recuperação improvável antes de seis meses depois que os preços do petróleo excederem US$ 35 (R$ 180,15) por barril.
Mercado exige dobro do corte
Apesar de algum ceticismo em torno do novo acordo de corte da produção, "ele deve acabar com os apelos para que o preço do petróleo caia para valor de um dígito", considera Edward Moya, analista sênior de mercado da OANDA em Nova York, em artigo no portal Market Pulse.
Moya prevê que os preços se mantenham robustos no curto prazo, mas tudo pode mudar rapidamente, sobretudo se EUA e Europa lograrem voltar a ter operacionais determinados setores de suas economias.
"Por enquanto, as perspectivas de demanda continuam sombrias", afirmou, prevendo que o preço do petróleo WTI (Texas) estabilize entre os US$ 20 (R$ 102,94) e os US$ 30 (R$ 154,41) por barril.
O analista explica que, nas atuais circunstâncias dos mercados de energia, para animá-los seria necessário não um corte de 9,7 milhões, mas sim de 20 milhões de barris por dia, pelo que não prevê que o mercado de petróleo se estabilize em breve.
Após o colapso do pacto petrolífero da OPEP+ em 6 de março e a decisão da Arábia Saudita de oferecer descontos face à queda da demanda, os preços do petróleo bruto atingiram um mínimo de 18 anos.
De acordo com Moya, foi o México que jogou a melhor carta, ao conseguir se comprometer apenas com uma redução de 100.000 barris por dia, e com os EUA assumindo os custos com o corte de um quarto da produção do vizinho do sul.
Já Trump pode se vangloriar, quer de ter resolvido o veto do México, quer de ter salvo os produtores de petróleo de xisto norte-americanos, aponta Moya.
Os preços do petróleo subiram em 13 de abril cerca de 1% para US$ 32 (R$ 164,7) por barril em Londres, enquanto na Ásia os futuros do Brent subiram 8% nos primeiros segundos de negociação, mergulhando de seguida em mais de 1%, noticia a Bloomberg.
Vale recordar que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e seus aliados (o chamado grupo OPEP+, do qual fazem parte Rússia e México) convidaram, no início de abril de 2020, mais dez países para negociações sobre a queda dos preços, entre os quais os EUA.