Segundo relatório do Banco Mundial, publicado no domingo (12), o Brasil terá uma redução de 5% em sua economia ao longo de 2020. A cifra supera o encolhimento esperado para a região da América Latina e Caribe, cuja perda econômica é estimada em 4,6% no mesmo período. Ainda segundo a instituição a recuperação brasileira também será mais lenta do que a da região.
Para o economista Cláudio Considera, coordenador do Monitor do PIB-FGV, a recuperação mais lenta do Brasil se deve às características da economia brasileira, às políticas econômicas em desenvolvimento no país e aos impactos da pandemia sobre este arranjo econômico.
"A retração brasileira deverá ser maior que a da América Latina e Caribe devido ao modelo de baixo crescimento que vínhamos seguindo nos últimos três anos", explica o professor em entrevista à Sputnik Brasil.
Considera aponta que a economia brasileira vinha baseando-se no consumo das famílias e também no consumo dos serviços, duas áreas amplamente impactadas pelos efeitos das medidas para conter a pandemia no país.
"Com a pandemia e a necessidade de isolamento social, as pessoas perdem renda e seu consumo cai, em particular o de serviços cai fortemente devido à paralisação do comércio, redução do transporte, redução de vários serviços prestados às famílias", explica.
O professor diz ainda que essa paralisação generalizada de serviços pode ter impacto sobre 68% do PIB brasileiro. Seguindo o raciocínio, o economista explica por que a recuperação brasileira deve ser mais lenta.
"A recuperação brasileira se fará também mais lentamente porque a recuperação desses setores dependerá da recuperação da renda e do emprego das famílias que foram desempregadas, e isto ocorrerá muito lentamente", avalia.
As escolhas para a recuperação e a morte da agenda de ajuste fiscal
O economista também alerta que a recuperação da economia dependerá diretamente do controle da pandemia, uma vez que só a partir daí os governos poderão acionar seus planos de retomada.
Sobre como os planos de recuperação serão desenhados, o economista aponta que ainda não há uma direção bem definida e entende que há pelo menos dois caminhos a serem seguidos.
"A nossa questão para o futuro é como será a recuperação. Retornaremos com o investimento de consumo ou teremos uma política de investimentos governamentais mais rigorosa que dê um empurrão na economia para que ela deslanche para um crescimento mais significativo?", indaga o pesquisador.
Considera é taxativo ao apontar o destino da agenda de ajuste fiscal que predominava no governo federal.
"Ou seja, a agenda de ajuste fiscal está morta e será assunto para o presidente que vier a ser eleito em 2022. Agora temos que cuidar para que a inflação não retorne, e nem que haja um descalabro fiscal com gastos correntes populistas e estrague todo o esforço da sociedade em construir uma economia menos desigual", conclui.