Em entrevista à Sputnik Mundo, o antigo presidente equatoriano teceu críticas à atual liderança equatoriana, ao julgamento de que foi alvo, às políticas neoliberais de seu sucessor, às falhas no combate à pandemia e aos atropelos constitucionais.
Correa falou em primeiro lugar sobre a sua condenação, de oito anos de prisão e 25 anos de inabilitação política, por alegadas fraudes no financiamento de seu partido político.
Farsa e justiça submissa
Correa afirmou "que tudo não passou de uma farsa, de um conluio entre o governo e magistrados judiciais e do Ministério Público, cujo principal objetivo era impedir que eu fosse candidato em 2021", referindo-se às próximas eleições presidenciais.
"Apresentem um documento, um só que seja!", exclamou Correa, que acusou o atual presidente, Lenín Moreno, de não respeitar a Constituição ao "substituir 60% dos juízes, enquanto assegura a obediência dos restantes 40%".
Denunciou igualmente o ambiente que envolveu o julgamento, ajudado por "uma mídia submissa, e que teve igualmente como objetivo camuflar a incompetência governamental no combate à pandemia".
Gestão sanitária criminosa
"O governo é irresponsável e criminoso. Não sou eu, é o que todos os indicadores dizem: nosso país tem a maior taxa de mortalidade por coronavírus da América Latina", relembrando de seguida que o Equador foi um dos países que melhor lidou com o surto de gripe suína em 2009.
"Somos agora um dos piores exemplos do mundo", acrescentou ele.
"O coronavírus pegou de surpresa o sistema de saúde do país", observou Correa, recordando a propósito que a atual administração "demitiu trabalhadores da saúde, terminou o convênio com os médicos cubanos e reduziu o orçamento da saúde".
Correa acusou ainda o governo de ter ignorado os primeiros sinais do problema do novo coronavírus.
"Em janeiro, já eram conhecidos os protocolos de ação contra a pandemia. Mas eles não fizeram nada. Eles não equiparam hospitais, não contrataram médicos, não obtiveram respiradores nem máscaras, não fizeram nada".
Prevendo que na próxima semana, em Guayaquil, a zona mais afetada pela pandemia, o índice de mortalidade possa aumentar drasticamente, o ex-chefe de Estado afirmou que "este desastre está apenas começando. As ações necessárias não estão sendo tomadas. Não consigo ver a luz no final do túnel".
Exército e mídia
Correia denunciou ainda a falta de apoios a todos os setores da economia, sobretudo à economia informal, "por as pessoas terem de sair de casa para trabalhar, senão passariam fome", reiterando sua opção por uma política humanista.
Criticou ainda o fato de o governo ter colocado o Exército nas ruas para controlar, afirmando que "o problema não está na quarentena, mas sim na fome".
"Em vez de combater o vírus com tanques de guerra, ponham a tropa a distribuir alimentos, sigam o exemplo da Venezuela", disse ele.
Ao terminar, alertou para o fato de já ter começado uma fuga de capitais para o exterior antevendo a catástrofe econômica que se avizinha, e que o Exército e a mídia "devem ser paladinos da liberdade".
"Enquanto estas duas questões não forem resolvidas, a América Latina nunca será livre", concluiu.