Segundo ele, as desavenças e críticas mútuas entre Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ocorrem "desde o início de seu governo", mas após a demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde se tornaram ainda mais "evidentes".
Pouco após o anúncio da saída de Mandetta, que também é do DEM, Bolsonaro disse em entrevista para a CNN Brasil que Maia tinha "péssima atuação" e parecia querer "atacar o presidente".
O parlamentar, por sua vez, afirmou, também para a CNN, que Bolsonaro o atacava como um "truque de política" para desviar a atenção sobre a saída de Mandetta, que deixou o cargo com alta aprovação popular.
Para Carvalhido, a disputa entre os dois começou no início do mandato de Bolsonaro, quando ele não "conseguiu negociar com o Congresso uma relação de equilíbrio", o que "dificulta um Executivo eficiente".
'Briga declarada'
"Bolsonaro já estava consciente dessa briga com o Congresso desde o inicio do seu governo. Quando optou politicamente em não formar um grupo forte na Câmara e no Senado, estabelecendo uma grande disputa com setores importantes, principalmente com seu setor mais significativo, que é o chamado centrão", disse o professor da Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro.
Carvalhido avalia que a partir dos últimos posicionamentos do presidente, principalmente seu embate com Mandetta, "que é do centrão", sobre a necessidade de isolamento social, o que "acontecia" mais nos "bastidores", agora é uma "briga declarada".
O analista lembra ainda o episódio no qual o presidente estimulou, e depois chegou a participar, em março, de manifestações contra as atuações de Maia, do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, outro parlamentar do DEM, e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Congresso 'absolutamente insatisfeito'
"Hoje, tanto a Câmara como o Senado estão absolutamente insatisfeitos com a politica adotada pelo presidente Jair Bolsonaro", afirmou o cientista político.
Nesse cenário, ele considera que um princípio de movimento para destituir Bolsonaro do cargo pode estar sendo gestado.
"Há sim uma briga muito forte, e há o inicio sim de um processo de tentativa de fortalecimento do impedimento do presidente", disse Carvalhido.
No entanto, para que isso ocorra, o professor aponta que outras "variáveis" estão em jogo, como "manifestações populares e a própria opinião publica, que precisam ser medidas".
Carvalhido diz que Bolsonaro ainda conta com apoio expressivo entre a população, de cerca de "um terço do eleitorado", e lembra que no início do processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff sua popularidade era de menos de 10%.
'Olho nas ruas'
Mas o cientista político faz uma ressalva: com a crise do coronavírus, "parte de seus eleitores" começa a criticá-lo abertamente, como foi o caso, por exemplo, da jurista e deputada estadual por São Paulo Janaína Paschoal, o que "movimenta a estrutura do Congresso".
"O Congresso está de olho no que está acontecendo nas ruas, apesar de estarmos em quarentena", disse Guilherme Carvalhido.