"O vírus vai estar aqui durante muito tempo. Permanecerá no outono que vem [entre setembro e dezembro]." Desta forma manifesta à Sputnik Mundo o epidemiologista e ex-diretor da Saúde Pública do Departamento da Saúde e Política Social do Ministério da Saúde, Ildefenso Hernández, que considera a flexibilização das medidas de isolamento social "uma decisão conveniente, porque devemos começar a iniciar a transição à medida que melhora a situação epidemiológica".
Enquanto alguns especialistas salientam que a Espanha está atuando adequadamente, outros, como Antoni Trilla, diretor do Departamento de Epidemiologia do Hospital Clínic de Barcelona e membro do comitê de especialistas do Executivo, defendem que seria "prudente" manter o isolamento restrito depois de 13 de abril, data em que alguns setores não essenciais voltaram a seus postos de trabalho.
O principal partido oposicionista espanhol, o Partido Popular, considera esta medida algo "improvisado" e denuncia a desproteção dos trabalhadores.
Trilla comenta que haverá um novo aumento de infecções que será visível "dentro de sete ou dez dias". Hernández também vê a possibilidade de uma retomada dos contágios, mas recorda que "nesse momento estão sendo realizados mais testes, muito mais exames sorológicos e exames PCR do que antes".
"Atualmente, a tendência continua sendo favorável. Isto vai ser um indicador a partir de agora até que se veja como se integram os novos casos assintomáticos que estão sendo detectados no sistema de vigilância. Claramente veremos mais casos em algum momento, mas devemos esperar hospitalizações e pessoas que estão em unidades de cuidados intensivos", afirma Trilla.
Por outro lado, a decisão de terminar com a "hibernação" da economia gera polêmica entre especialistas. O governo de Sánchez comenta que a medida foi tomada com base nas recomendações técnicas e que o objetivo de desafogar o sistema de hospitais foi atingido.
'Para salvar duas vidas, estamos arriscando muitas mais'
O presidente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhnom, recordou recentemente que todos os países devem ser cautelosos ao cancelar as restrições impostas para seguir contendo a propagação do coronavírus.
"Existem países como a Coreia do Sul que controlam muito bem o vírus, mas não sabemos o que pensam em fazer no futuro: sem ter uma baixa intensidade da epidemia durante muitos anos ou esperar que haja uma vacina", agrega o ex-diretor da Saúde Pública, Ildefenso Hernández.
Ainda que alguns especialistas defendam que o isolamento poderia salvar mais vidas, Hernández adverte à população que "para salvar duas vidas, estamos arriscando muitas mais".
"Um confinamento muito longo pode fazer que muitos negócios e muitas pessoas percam o emprego, o que empobreceria muito o país. Temos que manter um equilíbrio adequado, o qual é difícil de explicar, porque a reação básica de todo mundo é que ninguém poderia morrer pela pandemia, mas é difícil aceitar que há que parar tudo e o vírus seguirá ali quando sairmos do confinamento", concluiu.