A Sputnik conversou com agentes de saúde dos EUA que confirmam os dados divulgados pela Comissão de Fiscalização do Congresso dos EUA que estima que 90% do estoque nacional de equipamentos de proteção pessoal (EPI) já foram utilizados.
Uma enfermeira da cidade de Cleveland, Ohio, contou que os agentes de saúde estão trabalhando "com as mãos atadas". A falta de EPI faz com que agentes trabalhem com o medo constante de serem infectados pelo novo coronavírus.
"Temos vários membros da nossa equipe da área de UTI neonatal que testaram positivo. É estranho, porque não sabemos como eles podem ter sido infectados", contou a enfermeira.
"Estamos usando máscaras cirúrgicas comuns durante o nosso turno de 12 horas. Estamos quase sem lenços humedecidos, por isso eu uso lenços com cloro e álcool em spray para me proteger. Luvas, máscaras e protetores faciais que temos que usar para interagir com os pacientes estão quase acabando."
A enfermeira, que conversou com a Sputnik em condição de anonimato, diz ter medo de ser despedida por falar com a imprensa. Mas, como ela e seus colegas têm muito medo de ser infectados, a pressão psicológica do trabalho está cada vez mais insustentável.
"Eu fico me perguntando se é realmente seguro. Você não pode dizer para um paciente que a enfermeira que está cuidando do filho dele pode ter sido exposta [ao novo coronavírus]", disse.
"Meu maior medo é adoecer, porque nem sempre vou saber que estou doente, e posso acabar infectando pacientes e colegas."
Quando o turno da enfermeira acaba, ela deixa suas roupas do lado de fora de casa, com medo de que o vírus entre também.
"Todo o sistema de saúde está sob pressão. Eles dizem que os EUA têm o melhor sistema de saúde do mundo, mas isso não é verdade", desabafou. "Há três meses, vimos como a pandemia se espalhou na China. O governo federal [dos EUA] sabia e não fez nada. O planejamento foi terrível."
Ela conta que os estados norte-americanos estão tentando obter equipamentos, mas o governo federal faz ofertas melhores e fica com as mercadorias.
"Eles precisam delinear um plano. Eu sinto que eles não estão levando a questão a sério."
Relatório do Congresso dos EUA informou que o Departamento de Saúde e Recursos Humanos fez a sua última encomenda de respiradores N95, máscaras cirúrgicas, protetores faciais e luvas no início de abril. O restante dos estoques está sendo reservado para agentes de saúde do sistema federal e não deve ser redistribuído aos estados, informou o relatório.
Uma enfermeira aposentada que vive no oeste dos EUA contou como a pandemia está afetando a sua categoria.
"Quando coisas assim acontecem, todas as regras são ignoradas. É como pedir para um policial ir combater o crime sem um colete à prova de balas", disse.
A enfermeira, que é veterana da Força Aérea dos EUA, afirmou que as consequências de enviar agentes de saúde sem proteção para a linha de frente são duradouras.
"O sistema de saúde não vai se recuperar. As pessoas terão sintomas por anos, como aconteceu com o agente laranja", lembrou.
A Organização Nacional de Médicos e Enfermeiros dos EUA está se mobilizando para solicitar melhores condições de trabalho durante a pandemia.
A União Nacional das Enfermeiras (NNU, na sigla em inglês), o maior sindicato da categoria nos EUA, já havia alertado as autoridades sobre os riscos que os agentes de saúde estão correndo.
A NNU reagiu contra a decisão do Centro de Controle de Doenças de diminuir o padrão de proteção de agentes de saúde, permitindo aos hospitais que seus funcionários usem cachecóis ou mesmo bandanas para se proteger durante o atendimento aos pacientes.
Os EUA são o país mais afetado pela COVID-19 mundialmente, com mais de 842 mil casos e 14.785 vítimas fatais.