O jornal Military Times citou uma série de especialistas como dizendo que a possível morte ou incapacidade do líder norte-coreano Kim Jong-un poderia desestabilizar a região e provocar uma resposta militar dos EUA e da Coreia do Sul.
Chun In-bum, tenente-general aposentado sul-coreano e ex-chefe das forças de operações especiais do seu país, alertou para o "caos, sofrimento humano e instabilidade" se não houver um herdeiro designado na Coreia do Norte. "É uma má notícia para todos", disse ele à mídia.
Chun também não excluiu uma potencial guerra civil e uma crise de refugiados, mas se demonstrou pouco otimista sobre a possibilidade de Washington e Seul realizarem uma intervenção militar na Coreia do Norte.
"O que vamos fazer? Marchar lá para dentro?? Os chineses que o façam. A República Popular Democrática da Coreia é um país soberano. Qualquer um que entrasse lá, inclusive os chineses, seria louco. A Coreia do Sul e EUA têm um plano ruim, com pressupostos ruins. Ele vai nos levar para uma guerra nuclear", disse o militar.
David Maxwell, um membro sênior do fórum de debate Fundação para a Defesa das Democracias, com sede em Washington, observou que ainda não é claro se o líder norte-coreano designou um sucessor.
"Podemos especular que talvez sua irmã Kim Yo-jong" possa atuar nessa capacidade, o que Maxwell disse ser baseado "em sua recente promoção e no fato de ela ter começado a fazer declarações oficiais em seu próprio nome desde o mês passado."
O analista observou que não se sabe "se uma mulher, apesar de fazer parte da linhagem Paektu, poderia se tornar a líder do regime da família Kim", se referindo à linhagem Kim, que recebeu o nome do pico mais alto da Península Coreana.
Consequências da queda da família Kim
Maxwell alertou para um possível colapso do governo na Coreia do Norte, sugerindo que isso poderia ser seguido pelo começo do desenrolar de um "desastre humanitário" na nação comunista.
"Coreia do Sul, China e Japão (via embarcações) vão ter que lidar com potenciais fluxos de refugiados em larga escala. As unidades do Exército Popular da Coreia do Norte vão competir por recursos e sobrevivência. Isso levará a conflitos internos entre unidades e poderá levar a uma guerra civil generalizada", afirmou o especialista.
Segundo ele, um potencial conflito interno não os impediria de responder a uma possível incursão estrangeira.
"Como a Coreia do Norte é uma dinastia guerrilheira construída sobre o mito da guerra de guerrilha antijaponesa, podemos esperar que um grande número de militares (1,2 milhão em serviço ativo e 6 milhões de reservistas) resista a toda e qualquer intervenção estrangeira externa, inclusive da Coreia do Sul", afirmou Maxwell.
Ele prossegue dizendo que neste âmbito a aliança EUA–Coreia do Sul deveria estar preparada "para garantir e tornar seguro todo o programa de ADM [armas de destruição em massa], armas nucleares, químicas, biológicas e seus estoques, instalações de fabricação e infraestrutura humana (cientistas e técnicos)".
"Esta é uma operação de contingência que irá fazer o Afeganistão e o Iraque parecer brincadeira em comparação", afirmou o analista, acrescentando que "será um esforço conjunto, porque nem a Coreia do Sul nem os EUA podem executar isto sozinhos".
Plano de contingência de Pyongyang
Os comentários vêm depois que o jornal japonês Yomiuri Shimbun citou fontes familiarizadas com discussões trilaterais entre Washington, Seul e Tóquio. Estas teriam dito que a Coreia do Norte tem elaborado um plano de contingência para supervisionar a transferência de poder, em caso de emergência, para Kim Yo-jong, a irmã mais nova de Kim Jong-un.
Na terça-feira (21), Donald Trump tinha desejado felicidades a Kim Jong-un, depois de relatos sobre o estado grave do líder norte-coreano.
A CNN citou na segunda-feira (20) um funcionário anônimo dos EUA, que teria dito que a Casa Branca está monitorando a "inteligência" de que Kim está em "grave perigo" após uma cirurgia.
No dia 15 de abril, o líder norte-coreano, segundo informações, falhou a comemoração do aniversário de seu avô e fundador do Estado, Kim Il-sung, o que levou à especulação generalizada sobre a saúde de Kim Jong-un.