Cada país sul-americano adotou uma abordagem diferente no combate à disseminação do coronavírus. A estratégia do governo da Argentina de Alberto Fernández é pontuada por um forte apoio às camadas sociais mais vulneráveis, relata Gonzalo Fore Viani, um advogado e comentador político originário de Córdoba, em entrevista à Sputnik Internacional.
"[Alberto Fernández] assumiu a pandemia logo no primeiro momento, ordenando uma quarentena total e um distanciamento social, impedindo o aumento dos casos", explica à Sputnik Internacional. "Foi muito diferente da abordagem dos presidentes [Jair] Bolsonaro, no Brasil, ou Lenin Moreno, no Equador".
"Eles priorizaram a economia sobre a saúde de seus cidadãos e acabaram provocando um desastre nacional, não só para a saúde, mas também para a economia".
Apesar da contração econômica que o país já vivia antes da pandemia, e a possibilidade de default, o governo argentino imprimiu dinheiro e o direcionou para as pessoas de baixa renda e desempregadas, cortou impostos e reduziu as taxas de juro para as empresas afetadas pela recessão.
A decisão de proibir as demissões foi "a melhor possível", pois o já alto desemprego poderia levar à pior crise desde 2001, refere Viani. O governo anunciou que pagará 50% dos salários das empresas inativas durante a pandemia. Além disso, anunciou um imposto único para quem tem ativos superiores a 10 milhões de pesos argentinos (R$ 800,3 mil), mas este ainda não foi aprovado pelo Congresso.
Argentina se preparou para a COVID-19?
Buenos Aires está bem preparada para a pandemia, diz Gonzalo Viani.
"A China enviou 1.500 kits médicos, que foram muito úteis e importantes para a Argentina", afirma à Sputnik.
"Diminuindo a taxa de casos em primeiro lugar, o governo central e as autoridades provinciais ganharam tempo valioso, que usaram para aumentar o número de leitos em hospitais, preparar o pessoal médico e obter suprimentos de biossegurança".
De acordo com o presidente, a quarentena tem cinco etapas, e a Argentina está neste momento vivendo a terceira, em que 45% da população trabalha. As próximas etapas terão um maior número de pessoas trabalhando, até chegar ao "novo normal", mas com medidas sanitárias rigorosas para evitar um aumento dramático dos casos.
A verdadeira incógnita são os prazos do isolamento social, menciona.
Dívida da Argentina
A restruturação da dívida tem o objetivo de aliviar o estado da economia, que a vice-presidente do país, Cristina Kirchner, recentemente afirmou ser necessária para poder pagá-la no futuro, diz o advogado.
"Penso que o governo pode efetuar negociações bastante bem-sucedidas, especialmente com o Fundo Monetário Internacional (FMI), e embora a situação com os credores privados seja mais difícil, também é possível chegar a um acordo", diz Viani, referindo o apoio de Emmanuel Macron na França, de Angela Merkel na Alemanha, e de Donald Trump nos EUA.
A política de Buenos Aires resultou na alta popularidade do presidente, que chega "inclusive a máximos históricos".
"Creio que Fernandez fez o melhor que pôde, dadas as circunstâncias", resume o especialista.
A Argentina registra 4.285 casos de infecção de coronavírus, com 214 mortes e 1.192 recuperações, segundo a Universidade Johns Hopkins (EUA).