Stephen Bennett, um premiado documentarista freelancer, é autor de conhecidos filmes e programas de TV. Ele é também autor do novo documentário "Monstros Eminentes: Manual para a Tortura Moderna" ("Eminent Monsters: A Manual for Modern Torture").
O trabalho detalha a história de experiências em humanos do programa de lavagem cerebral MK Ultra, realizado pela CIA. Um trabalho que o autor considerou difícil de fazer, pois levou dez anos a obter financiamento, e muitos dos contribuidores criaram diferentes tipos de dificuldades em dar testemunhos, desde não querer atrair atenção negativa uma segunda vez até considerarem suas palavras tiradas do contexto.
Em entrevista dada à Sputnik Internacional, Bennett oferece testemunhos de psicólogos seniores norte-americanos e denunciantes sobre a colaboração entre a CIA e o Canadá, que entre 1957 e 1963 financiaram secretamente o psiquiatra de origem escocesa Dr. Ewen Cameron.
"[O médico] foi sendo chamado 'Monstro Eminente' […] à medida que suas experiências assustadoras progrediam. Ele era oficioso, narcisista, dominador e mercurial. Mas, ainda assim, na época ele era um dos psiquiatras mais procurados e tornou-se presidente das associações psiquiátricas americana, canadense e mundial", refere o denunciante.
Seu trabalho incluía provocar privação sensorial, sobrecarga sensorial, comas forçados, injeções de LSD e tortura psicológica extrema em suas vítimas.
Implementação em pleno
Mais tarde, sua pesquisa desumana foi incorporada no Manual de Interrogatório de Contrainteligência de Kubark da CIA, em 1963, e em futuras operações, tais como Guantánamo e a reação do governo britânico aos atentados à bomba na Irlanda do Norte pelo Exército Republicano Irlandês (IRA, em inglês) em 1971.
Prisioneiros suspeitos de pertencer à IRA foram capturados nesse ano sem processo penal e levados para uma instalação em Ballykelly, Irlanda do Norte, onde foram colocados em capuz e submetidos a ruído branco, privação de sono, manipulação dietética e posições de estresse.
As vítimas eram chamadas de Homens com Capuz Preto. Seus torturadores solicitaram e receberam imunidade antecipada a processos judiciais posteriores.
"Em 1978, a Irlanda levou o Reino Unido à Corte Europeia de Direitos Humanos", continua Stephen Bennett. "A Corte Europeia de Direitos Humanos decretou que o que os homens haviam sofrido não era tortura, mas tratamento desumano e degradante. Isso significava que os governos podiam legalmente usar essas técnicas com impunidade."
A técnica se espalha
Bennett refere que em 2002 o governo dos EUA usou o precedente para justificar essas técnicas em chamados "memorandos de tortura". Milhares de voos levavam pessoas arrancadas das ruas desde Milão à Malásia e levadas a chamados Sítios Negros (Black Sites) desde o Uzbequistão até Marrocos.
Nenhum dos indivíduos envolvidos nas torturas mentais de MK Ultra, em Guantánamo, sobre os Homens com Capuz Preto ou em Sítios Negros foram alguma vez responsabilizados pelas suas ações, lamenta Stephen Bennett.
"Estas técnicas, privação sensorial (capuz, luvas, etc.), sobrecarga sensorial (seja por música repetitiva ou ruído branco), manipulação do sono e dietética, posições de estresse, usadas separadamente ou em conjunto, ou em alternância com violência física, se normalizaram tanto que agora fazem parte normal da ação na criação de filmes", explica o documentarista.
Hoje em dia, o denunciante conhece pelo menos 27 países que fazem estas práticas, sem contar com os possíveis casos da Rússia e da China.
Bonnett considera o documentário como um apelo para não deixar passar tal comportamento pelos governos no mundo afora.
Por fim, o documentarista agradece a John Archer, por ter ajudado a financiar o filme, e ao professor Nils Melzer, o relator especial da ONU sobre Tortura que tem coberto o caso de Julian Assange, por ter publicado um relatório, citando "Monstros Eminentes: Manual para a Tortura Moderna", no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em 14 de fevereiro de 2020.