Em um artigo publicado no portal científico Phys.org, Nick Longrich, paleontólogo da Universidade de Bath, Reino Unido, opina que os humanos estão inevitavelmente caminhando para a extinção, só faltando saber quando.
Segundo o cientista, os seres humanos têm vulnerabilidades. Animais grandes e de sangue quente como o homem não lidam bem com as perturbações climáticas. Pequenas tartarugas e cobras de sangue frio podem durar meses sem alimento, por isso sobreviveram.
Ao invés, animais grandes, com metabolismos rápidos como os tiranossauros, no passado, ou os humanos, no presente, necessitam de muito alimento, o que os deixa muito vulneráveis a rupturas na cadeia alimentar causadas por catástrofes como vulcões, aquecimento global, idades do gelo ou o inverno de impacto após colisão com um asteroide.
O ser humano tem em regra uma vida prolongada, com longos tempos de geração, e poucos descendentes. A reprodução lenta dificulta a recuperação de quedas de população e retarda a seleção natural, dificultando a adaptação às rápidas mudanças ambientais.
Contudo, e apesar de o ser humano ser vulnerável, há razões para pensar que poderia resistir à extinção, crê o paleontólogo, apontando para tal várias razões.
Homem domina a Terra
A primeira razão aduzida pelo cientista prende-se com o fato de o homem estar disseminado por todas as partes do mundo. Organismos geograficamente disseminados se saem melhor durante catástrofes, como o impacto de asteroides, e entre eventos de extinção em massa.
Grande distribuição geográfica significa que, se um habitat é destruído, determinada espécie pode sobreviver em outro.
Os seres humanos possuem a maior área geográfica de qualquer mamífero, habitando todos os continentes, ilhas oceânicas remotas, habitats tão diversos como desertos, tundra e floresta tropical.
Já ursos polares e pandas, por exemplo, com reduzidos habitats, estão ameaçados de extinção. Por seu turno, os ursos marrons e as raposas vermelhas, com extensas áreas de habitat, não estão.
Para além de se estar disseminada geograficamente por todo o planeta, o paleontólogo aponta uma segunda razão para uma eventual sobrevivência da espécie humana – sua abundância.
Com 7,8 bilhões de pessoas, o homo sapiens está entre os animais mais comuns da Terra. A biomassa humana excede a de todos os mamíferos selvagens. Mesmo assumindo que uma pandemia ou guerra nuclear poderia eliminar 99% da população, milhões sobreviveriam para regenerar a espécie, o que seria facilitado pelo fato de o homem ser omnívoro, comendo de tudo.
A terceira razão, e a mais importante na opinião do cientista, prende-se com o fato de o homem ser dos animais que melhor adequa seu comportamento. Ao invés de levar gerações para mudar nossos genes, os humanos usam sua inteligência, cultura e ferramentas para se adaptar.
"As baleias levaram milhões de anos para desenvolver barbatanas, dentes pontiagudos, sonar. Em milênios, os humanos inventaram anzóis, barcos e sonares de pesca. A evolução cultural supera até mesmo a evolução viral. Os genes virais evoluem em dias. Só é preciso um segundo para pedir a alguém que lave as mãos", refere Nick Longrich.
Homem é animal inteligente
A evolução cultural não é apenas mais rápida que a evolução genética, ela é também diferente. Nos humanos, a seleção natural criou um animal inteligente, que não se adapta cegamente ao meio ambiente, mas que conscientemente o adapta a suas necessidades.
"As chitas evoluíram em velocidade para perseguir suas presas. Nós criamos vacas e ovelhas que não fogem", escreveu Longrich.
O paleontólogo crê que o ser humano até tão adaptável que poderia mesmo sobreviver a um evento de extinção em massa.
Na hipótese de ser dado um alerta de impacto de asteroide com uma década de antecedência, o homem conseguiria provavelmente estocar alimento suficiente para sobreviver durante anos ao frio e escuridão, salvando grande parte ou a maioria da população.
"Interrupções de longo prazo, como idades do gelo, poderiam causar conflitos generalizados e colapsos populacionais, mas a civilização provavelmente sobreviveria", opina o paleontólogo.
Longrich não deixa de apontar o lado negativo da adaptabilidade humana:
"Mudar o mundo às vezes significa mudá-lo para pior, criando novos perigos: armas nucleares, poluição, superpopulação, mudanças climáticas, pandemias. Assim, mitigamos esses riscos com tratados nucleares, controles da poluição, planejamento familiar, energia solar barata, vacinas", escreve.
Mundo interconectado
Nossa civilização global também inventou maneiras de se apoiar mutuamente. Pessoas em uma parte do mundo podem fornecer alimentos, dinheiro, educação e vacinas para pessoas vulneráveis em outros lugares. Mas interconectividade e interdependência também criam vulnerabilidades.
Comércio internacional, viagens e comunicações ligam pessoas em todo o mundo. Assim, os jogos financeiros em Wall Street destroem economias europeias, a violência em um país inspira um extremismo assassino no outro lado do globo, um vírus de uma caverna na China se espalha para ameaçar a vida e subsistência de bilhões de pessoas.
"Isto sugere um otimismo limitado. O Homo sapiens já sobreviveu a mais de 250.000 anos de idades glaciais, erupções, pandemias e guerras mundiais. Poderíamos facilmente sobreviver mais 250 mil anos ou por mais tempo", prevê o paleontólogo.
Desastres naturais ou provocados pelo homem e que levem à quebra generalizada da ordem social, ou mesmo da civilização, podem levar à perda da maioria da população humana.
Mas mesmo em cenários pós-apocalípticos, seria provável que os humanos sobrevivessem, talvez voltando à agricultura de subsistência, ou até mesmo regressando à condição de nómadas caçadores-coletores, aponta o cientista.
"A questão não é tanto se os humanos sobrevivem nos próximos três ou trezentos mil anos, mas se nós podemos fazer mais do que apenas sobreviver", concluiu desta forma seu artigo o paleontólogo Nick Longrich.