Estaria Israel empurrando Irã para fora da Síria?

© AP Photo / Jack GuezCaça F-15 da Força Aérea de Israel
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Coberto pela tempestade mediática do coronavírus, Israel está intensificando sua campanha de bombardeio de alvos iranianos na Síria.

Ao ponto de convencer Assad de que o Irã é um fardo para seu país? Gil Mihaely, grande conhecedor da geopolítica israelense, analisou para a Sputnik França a estratégia de Tel Aviv na Síria.

Enquanto a atenção do mundo está voltada para a pandemia do novo coronavírus, Israel avança sem alarido seus peões no Oriente Médio. Desde 2012, o Estado judeu tem bombardeado regularmente alvos do Hezbollah e iranianos na Síria. Contudo, recentemente, os bombardeios aumentaram em intensidade e frequência.

Campanha que os militares israelenses apresentaram como uma vitória sobre o Irã e que levou mesmo o jornal Times of Israel a anunciar em manchete a retirada iraniana da Síria "sob os golpes de Israel" e o ministro da Defesa israelense a proclamar que, para Assad, o Irã se tornou em um fardo.

"Mas a realidade – como muitas vezes acontece em tempos de guerra – é muito mais complexa", prosseguiu Gil Mihaely, editor das revistas Causeur e Conflits que comenta regularmente sobre política e geopolítica israelense nas mídias.

Israel se vangloria

Segundo ele, este triunfalismo é, acima de tudo, uma estratégia de política interna, para consumo do público interno.

"Em Israel, só a imprensa de direita fala de uma vitória sobre o Irã na Síria. As mídias do centro e de esquerda não escrevem sobre isso. Os analistas mais sérios sobre estas questões são muito mais cautelosos."

Para o especialista, foi o ainda ministro da Defesa, Naftali Bennett, que é próximo à direita nacionalista e em breve deixará seu posto, "quem informou a imprensa na esperança de que isso melhorasse sua imagem e o fizesse parecer o homem que derrotou o Irã na Síria".

© AFP 2023 / JACK GUEZSistema antiaéreo israelense conhecido como Cúpula de Ferro (imagem referencial)
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Sistema antiaéreo israelense conhecido como Cúpula de Ferro (imagem referencial)

Seja como for, os recentes bombardeios seguem uma lógica estratégica israelense bem definida, visando sobretudo dois objetivos:

O primeiro "é o de evitar que o Hezbollah adquira mísseis de alta precisão fornecidos pelo Irã via Síria, o que lhe permitiria atingir centros urbanos e instalações militares em Israel", segundo Mihaely.

O segundo objetivo "é o de evitar a todo custo a transferência de tecnologia que permitiria ao Hezbollah construir seus próprios mísseis de alta precisão", ou seja, pretende-se que o "Hezbollah não possa comprar mísseis nem adquirir conhecimento para os obter".

Prova disso é o ataque aéreo que ocorreu em 4 de maio contra um centro de pesquisa a sudeste de Aleppo. Segundo Gil Mihaely, este centro é colocado à disposição das forças hostis a Israel precisamente para permitir esta transferência de tecnologia, embora oficialmente não haja confirmação disso.

Estratégia Israelense

Enquanto vidas e propriedades são regularmente destruídas por esses bombardeios, não há qualquer indicação de que o Irã esteja se retirando na Síria.

Aliás, segundo o especialista, "o Irã atingiu seus dois principais objetivos na Síria, a saber, manter Assad no poder e fortalecer o Hezbollah no Líbano através da Síria".

Por sua vez, Tel Aviv tenta a todo custo semear a ideia de que para a Síria o apoio iraniano é, acima de tudo, um fardo. Esta é a essência da linha de conduta de Israel, que não deseja intervir militarmente na Síria além de alguns ataques aéreos.

"A estratégia israelense é eliminar fisicamente os perigosos elementos iranianos na Síria, mas há também uma mensagem enviada a Assad e Putin: nós [Israel] temos interesses vitais, e não podemos ter outro vizinho vassalo do Irã depois do Líbano. O Tsahal [Exército de Israel] está, assim, tentando fazer Moscou e Damasco entender que o apoio iraniano é mais um fardo do que qualquer outra coisa", enfatiza o especialista em política israelense.

Gil Mihaely opina que Síria e Israel poderiam voltar a uma forma de vizinhança cordial, como foi o caso entre 1974 e 2011, se bem que nunca no curto ou médio prazo.

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