Os EUA e Reino Unido, "duas nações que se orgulhavam de seu extraordinário status econômico, histórico e político", sucumbiram à pandemia do coronavírus devido ao "modelo de capitalismo anglo-americano" de há décadas e por serem reféns de populismo nos últimos anos, afirma o jornal The Guardian.
Os Estados Unidos tiveram um desempenho "petulante e mal preparado" perante a crise, diz o diário, mas a resposta do Reino Unido foi quase tão ruim.
As duas administrações teriam se focado em noções de restauração de grandeza e renascimento abstratas, mas o populismo afasta dos governos os fazedores e os enche de "líderes de torcida" que corrompem a qualidade do debate público.
"Quando o COVID-19 chegou às suas costas, no Reino Unido e nos EUA faltavam não só os políticos, mas também as burocracias necessárias para responder eficazmente", diz a mídia.
Tanto no Reino Unido, com o governo "envolvido em uma rixa com seu próprio serviço público", como nos EUA, em que Trump tentou repetidamente retirar financiamento ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos EUA, a resposta pública falhou.
Raízes mais profundas
No entanto, declara o jornal, o atual fenômeno é apenas um culminar da relação entre os dois países anglófonos no período pós-Segunda Guerra Mundial, com ideologia de governos pequenos, privatizações, liberalização e remoção de direitos dos trabalhadores.
"Nenhum aviso ou advertência poderia ter reformulado a máquina do governo com rapidez suficiente para salvar vidas", diz The Guardian, comentando que a culpa não é apenas dos líderes da direita.
Depois da crise de 2008, quando o sistema financeiro mundial esteve perto do "apocalipse", Barack Obama, dos EUA, e Gordon Brown, do Reino Unido, decidiram apoiar a infraestrutura do modelo vigente salvando os bancos, em vez de realizar reformas fundamentais.
As instituições internacionais, como União Europeia, Organização Mundial de Saúde e OTAN, e outros países acabam sendo culpabilizados neste sistema para justificar o falhanço nacional contra uma crise que deu tempo e exemplos suficientes, como China e Itália, para responder a ela adequadamente, opina o jornal britânico.
"À medida que se acumulam os cadáveres, o fracasso dos EUA e do Reino Unido será de alguma forma transformado em vitória. O triunfalismo vai se intensificar; isso é certo. A única questão agora é saber quantos continuarão acreditando nisso", conclui.