O ministro venezuelano das Relações Exteriores, Jorge Arreaza, afirmou que o governo colombiano foi cúmplice em ações contra a Venezuela e suas autoridades, uma semana depois que o grupo que tentava entrar no país por mar foi desmantelado.
No fim de semana passado, foram encontradas três lanchas colombianas sem ocupantes, mas com todas suas armas, em águas venezuelanas.
"O envolvimento das autoridades colombianas por cumplicidade e ação direta é mais do que óbvio", disse Arreaza em diálogo com a estação de rádio colombiana Caracol Radio.
Arreaza disse isso após lembrar que, em 26 de setembro de 2019, a vice-presidente venezuelana Delcy Rodríguez "apresentou à Assembleia Geral da ONU as fotografias, as coordenadas dos campos de treinamento em Alta Guajira [norte da Colômbia]", onde os mercenários se preparavam para entrar na Venezuela, como os próprios homens admitiram após serem capturados.
Choques diplomáticos
Na última terça-feira (5), o presidente venezuelano Nicolás Maduro disse que os mercenários faziam parte de uma tentativa de golpe contra ele que foi ordenada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e executada pela Agência Antidrogas (DEA) dos EUA, com apoio do governo colombiano.
"Iván Duque [presidente da Colômbia], através do Exército e da Direção Nacional de Inteligência, ordenou apoiar todos esses grupos em seu treinamento em três campos, apoiá-los em sua estadia em Ríohacha e em Alta Guajira [ambas no departamento colombiano de La Guajira]", disse Maduro, depois que a Marinha venezuelana deteve um grupo de mercenários e matou dois deles em meio ao combate.
Por sua vez, o Ministério das Relações Exteriores da Colômbia negou a responsabilidade do governo na ação e rejeitou "as falsas acusações de Nicolás Maduro de qualquer participação em supostas ações contra o país vizinho".
Segundo Arreaza, a cumplicidade do governo de Duque se manifesta no fato de que ele não agiu para impedir a entrada desse grupo de mercenários na Venezuela.
"As autoridades colombianas não fizeram nada, não investigaram nada, não foram aos lugares onde tínhamos indicado que estavam os campos de treinamento, não fizeram batidas, não protegeram as costas para que nenhuma embarcação saísse", disse ele.
Ele acrescentou que a ação foi encomendada pelo líder da oposição venezuelana Juan Guaidó.
"Há um contrato com sua assinatura, e também é assinado por mais duas pessoas de sua equipe muito próxima", disse ele.
Relações bilaterais
A Colômbia não tem relações diplomáticas com a Venezuela, pois não reconhece o governo de Maduro desde sua reeleição, em maio de 2018, e por isso mantém, junto com os Estados Unidos e cerca de 50 outros países, que o país é uma ditadura, e em vez dele reconhece Guaidó como o presidente interino do país caribenho.
Caracas tem acusado repetidamente a Colômbia de promover ações desestabilizadoras junto com os Estados Unidos para provocar um golpe de Estado contra o presidente chavista.
"A comunicação entre ambos os governos, nos mais altos níveis, é necessária para poder resolver este tipo de incidentes e outros que ocorrem em nossa extensa fronteira", disse Arreaza.
"Nossa Marinha está fazendo as investigações pertinentes, assim como o Ministério Público. É uma situação estranha que embarcações com artilharia que são usadas para patrulhamento simplesmente se deixem levar pela corrente [como foi indicado pela Marinha colombiana em um comunicado]", disse Arreaza.
O chanceler disse ainda que a Venezuela devolverá as lanchas após a comunicação de Duque com Maduro, assim como entre os ministros das Relações Exteriores e da Defesa de cada país, após o cumprimento das investigações e protocolos internacionais sobre esse tipo de eventos.