O sangue masculino tem concentrações mais elevadas de enzima conversora da angiotensina 2 (ACE2) do que o das mulheres. Este receptor é encontrado na superfície de células saudáveis e ajuda o coronavírus a infectá-las, conclui um novo estudo publicado na revista European Heart Journal, envolvendo uma amostra de milhares de pacientes.
Há altas concentrações de ACE2 nos pulmões, portanto se crê que a enzima tenha um papel crucial na evolução das patologias pulmonares relacionadas à COVID-19, explicou Adriaan Voors, professor de cardiologia do Centro Médico da Universidade de Groningen, nos Países Baixos, conforme comunicado de imprensa da Sociedade Europeia de Cardiologia.
A ACE2 também pode ser encontrada no coração, rins e tecidos que revestem os vasos sanguíneos. Também se encontram concentrações especialmente altas nos testículos. Este fato, dizem os cientistas, pode explicar em parte por que os homens têm mais ACE2 do que as mulheres, e por que os testículos são também afetados pela COVID-19.
Método de estudo
Na pesquisa, Adriaan Voors e outros cientistas mediram os níveis de ACE2 em amostras de sangue coletadas de dois grupos de pacientes com insuficiência cardíaca de 11 países europeus.
No primeiro grupo, destinado a testar suas hipóteses, havia 1.485 homens e 537 mulheres. O segundo, que os pesquisadores usaram para corroborar suas descobertas, tinha 1.123 homens e 575 mulheres.
No primeiro grupo, a idade média dos homens era de 69 anos e a das mulheres de 75 anos. No segundo grupo, os homens e as mulheres tinham em média 74 e 76 anos, respectivamente.
Os cientistas constataram que os pacientes com insuficiência cardíaca que tomavam medicamentos que visam o sistema renina-angiotensina-aldosterona (RAAS, na sigla em inglês), como os inibidores da enzima conversora da angiotensina ou os bloqueadores dos receptores da angiotensina (MRA, na sigla em inglês), não tinham altas concentrações sanguíneas de ACE2.
Conclusões do estudo
Pesquisas anteriores sugeriam que esses medicamentos poderiam elevar a ACE2 no plasma do sangue, aumentando assim o risco de contrair a COVID-19.
"O estudo atual indica que isso não acontece. Nossas conclusões não apoiam a interrupção destes medicamentos em pacientes com COVID-19, como os relatórios anteriores sugeriram", disse Voors.
Apesar de tudo, a descoberta deve ser tratada com muita cautela, pois o novo estudo só calculou concentrações de ACE2 no plasma e não no tecido pulmonar. Além disso, o estudo não pode fornecer evidências definitivas sobre os efeitos dos inibidores em pacientes com COVID-19.
Suas conclusões se limitam principalmente aos pacientes com insuficiência cardíaca. Por isso, a nova pesquisa diz não poder afirmar que existe uma ligação direta entre padecer de COVID-19 e maiores concentrações de ACE2.