De acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), em abril de 2020 o salário mínimo deveria ser 4,29 vezes os atuais R$ 1.045. A cifra é calculada com o levantamento do custo de uma cesta básica em 17 diferentes capitais brasileiras e o custo estimado de itens como transporte, educação e lazer.
A economista e supervisora de pesquisas do Dieese Patrícia Costa afirma que o "objetivo inicial" do salário mínimo, criado em 1938 pelo então presidente Getúlio Vargas por meio do decreto Nº 399, era garantir "vida de qualidade". Costa ressalta que o decreto segue em vigor, mas o salário mínimo foi ao longo das décadas perdendo poder de compra, ou seja, a capacidade de ser transformado em bens e serviços.
"O salário mínimo é quatro vezes menor que o salário mínimo necessário porque ele foi perdendo o seu objetivo inicial que era de garantir para o trabalhador e sua família a possibilidade de ter um acesso a uma alimentação de qualidade, pagar suas contas da casa, ter acesso à educação, ao transporte, lazer e saúde. Ao longo da história, ele passou a ser usado como um instrumento de contenção da inflação. Então quando a inflação era muito alta, o reajuste do salário mínimo era menor que essa inflação", avalia Costa.
Ainda de acordo com a economista do Dieese, o Brasil conseguiu por meio de aumentos acima da inflação no salário mínimo na década de 2000 diminuir a desigualdade no país e isso demonstra "a importância do salário mínimo". Com o aumento dos vencimentos mínimos acima da inflação, diz Costa, é criada uma "espiral positiva" de renda, consumo e produção na economia.
Contudo, a economista afirma que houve a decisão de reverter a "política de valorização" do salário mínimo e isso acarretou no "aumento da desigualdade e o empobrecimentos dos trabalhadores e dos aposentados".