Na terça-feira (12), o Brasil registrou uma recorde de mortes diárias por COVID-19. Foram 881 mortes em 24 horas, fazendo o país chegar a 12.400 mortes causadas pela doença e se consolidar ainda mais entre os países com mais mortes no mundo inteiro.
Diante desse quadro, Raquel Stucchi, infectologista e professora da Faculdade de Medicina da Unicamp, reforça a necessidade do isolamento social para impedir a transmissão da COVID-19 e retardar o número de casos.
"Isso é importante para que a gente possa ter uma estrutura de saúde adequada para atender os pacientes", afirma a especialista em entrevista à Sputnik Brasil.
O mesmo estudo demonstra que a taxa de transmissão do vírus era de 2,15 por pessoa, e passou para 1,59 após a implementação das restrições sociais no Brasil. O país soma hoje 177.589 casos confirmados da COVID-19.
Tendo em vista que pelo menos 15 mil vidas seriam salvas nas próximas duas semanas, segundo o estudo, Stucchi defende o endurecimento das medidas de isolamento.
"É necessário sim que sejam tomadas medidas mais rigorosas para o controle da circulação das pessoas, porque só dessa forma nós vamos conseguir diminuir o número de novos casos e poder dar tempo para que o sistema de saúde possa se organizar e ter leitos novamente", afirma.
A infectologista reforça que a crescente ocupação de leitos faz necessário o reforço do isolamento social, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, os estados que mais concentram casos e mortes causadas pela COVID-19 no Brasil.
"Se não for pelo amor, entendendo que isso é necessário [o isolamento], então talvez tenha que ser pela dor, no sentido de que medidas mais rigorosas, que dificultem a circulação das pessoas sejam implantadas", aponta.
Conforme a infectologista, o endurecimento das medidas de isolamento deve levar em conta a capacidade hospitalar das cidades e também o número de casos. Dependendo da situação, pode ser necessário que haja implementação do confinamento, o "lockdown", até que o número de casos diminua, como já vem acontecendo em várias cidades brasileiras.
"A gente tem que levar em conta as duas coisas: o número de casos e qual é a capacidade de leitos hospitalares para aquele local. Então, baseado nesses dois números, é que se discute a necessidade do bloqueio total de circulação", aponta.
Efeitos tardios e possível pico da pandemia
Stucchi explica que o quadro atual da pandemia no Brasil reflete a situação de cerca de duas semanas atrás em termos de isolamento. Ou seja, o impacto da restrição social sobre a taxa de transmissão do vírus leva até duas semanas para se manifestar nas estatísticas.
"O que está acontecendo hoje, no estado de São Paulo, no Rio de Janeiro, acontece porque as pessoas ficaram nas ruas duas semanas atrás, dez dias atrás, então teve esse aumento agora. Se a gente começa a ficar em casa a partir de agora, porque nós entendemos que temos que ficar ou porque tem sido feito um bloqueio mais extensivo sobre a circulação das pessoas, o reflexo disso será daqui dez a 14 dias", detalha a pesquisadora.
Diante dessa situação, o relaxamento de medidas dependerá diretamente do impacto desse esforço sobre as vagas em leitos nos hospitais e também no número de casos.
A infectologista Raquel Stucchi acredita que o Brasil se aproxima de um pico da pandemia, mas que antes de uma queda no número de casos ainda é possível que haja um "platô", ou seja, um período de estabilidade nas taxas de transmissão da doença.
"Eu acredito que nós estamos próximos - talvez mais uns dez dias - de alcançarmos o pico e, talvez, em vez de um pico, tenhamos ainda um platô antes de começar a ter um controle mais adequado da doença", conclui.