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Pandemia traz conta da austeridade e é necessário mais investimento na saúde, diz sanitarista

© AP Photo / Andre PennerMédicos checam passageiros de um carro em Guarulhos, na Grande São Paulo
Médicos checam passageiros de um carro em Guarulhos, na Grande São Paulo - Sputnik Brasil
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório revelando que o Brasil investe menos em saúde do que os países vizinhos e europeus. A Sputnik Brasil consultou um médico sanitarista sobre o assunto, que apontou como esse quadro agrava situação na pandemia da COVID-19.

Os dados da OMS apontam que dos 193 países membros da organização, 81 gastam mais com a Saúde do que o Brasil, proporcionalmente ao orçamento público. Em 2017, o Brasil gastava 10,3% de seu orçamento público com saúde, abaixo da média dos países das Américas - 13,2% - e também da Europa -12,3%.

A pandemia revelou a fraqueza do sistema público de saúde em diversos países e já se inicia um debate em torno do reforço dos sistemas de saúde mundo afora. É o que lembra o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e um dos fundadores da ANVISA.

"Todos os países do mundo nesses últimos 15-20 anos, depois da crise de 2008, tiveram uma retração em seus investimentos sociais. Todos esses países de alguma forma privilegiaram o que é chamado de equilíbrio fiscal. E para alcançar o equilíbrio fiscal reduziram seus investimentos na área social, particularmente na área da saúde. A conta está chegando agora com a epidemia do coronavírus", afirma o médico sanitarista em entrevista à Sputnik Brasil.

Vecina Neto lembra que os cortes no investimento público em saúde também ocorreram no Brasil, seguindo a mesma tendência internacional.

"Nós estamos gastando muito pouco em saúde, essa é uma realidade insofismável. Compare do jeito que quiser comparar. O resto é hipocrisia e mentira", afirma.
© Ministério da Saúde / Frame / YoutubeO sanitarista Gonzalo Vecina Neto em entrevista ao Ministério da Saúde sobre a 1ª Conferência Nacional de Vigilância em Saúde, em 2017.
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O sanitarista Gonzalo Vecina Neto em entrevista ao Ministério da Saúde sobre a 1ª Conferência Nacional de Vigilância em Saúde, em 2017.

O médico recorda que o Brasil investe menos em saúde do que os países vizinhos em relação ao PIB, conforme aponta a OMS, mas acrescenta que o país tem também características diferentes que devem ser ressaltadas, tanto no investimento quanto em relação à pandemia.

"Em primeiro lugar é o tamanho. O Uruguai tem quatro milhões de habitantes, o Paraguai tem 6 [milhões], a Argentina tem 38 [milhões], o Chile tem 18 milhões de habitantes. Essa doença é uma doença que precisa de gente para se espalhar. Quanto mais pessoas você tiver mais ela se espalha", aponta Vecina Neto.

A desigualdade social brasileira é uma outra diferença que aponta o médico fundador da Anvisa em relação aos países vizinhos.

"A outra diferença é que nós temos diferenças sociais muito maiores do que os vizinhos. Talvez o Paraguai seja um pouco mais próximo da nossa realidade. Mas a concentração de renda no Brasil é uma coisa estúpida. Nós somos um dos países que tem maior concentração de renda", aponta.
© Folhapress / Eduardo KnappDesigualdade social: vista da favela de Paraisópolis, ao lado de um dos bairros mais ricos de São Paulo, o Morumbi
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Desigualdade social: vista da favela de Paraisópolis, ao lado de um dos bairros mais ricos de São Paulo, o Morumbi

Das diferenças sociais brasileiras, há consequências diretas sobre a saúde e também sobre a pandemia, explica Vecina Neto.

"E concentração de renda implica em dizer pobreza, temos muitos pobres. Essa doença mata mais pobres, aliás isso já está acontecendo aqui. Quando a gente olha a mortalidade em São Paulo, a mortalidade foi para a periferia. Essa doença é uma doença que começou pela cobertura e vai terminar pelo subsolo, no porão do país", afirma o médico, ressaltando que essa situação faz com que negros morram progressivamente mais pela doença do que brancos no Brasil.

O orçamento brasileiro em 2020 alcançou R$ 3,8 trilhões, dos quais R$ 125 bilhões foram encaminhados para a área da Saúde. Para Vecina Neto, uma boa medida que poderia ser retomada para aumentar os gastos no setor é a proposta da Emenda Constitucional nº 29, que define um gasto mínimo em saúde.

"Nós temos muito a pagar para a sociedade brasileira para ter um sistema de saúde melhor, que trate de maneira igual todos os cidadãos. Mas para isso, temos que melhorar a nossa capacidade de financiamento e temos que, principalmente também, melhorar a gestão. Esse movimento nós temos que fazer no pós-COVID, é o futuro. Mas todos nós temos que saber que temos que construir esse futuro, senão não vamos construir esse futuro", conclui.
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