"Foi um mês perdido, que jogaram fora no meio da epidemia", afirmou em entrevista para o jornal Folha de S.Paulo.
Teich anunciou nesta sexta-feira (15) sua demissão do ministério sem explicar as razões para sua decisão: "A vida é feita de escolhas e hoje escolhi sair", disse ele em pronunciamento.
Nos bastidores, porém, o que se diz é que o médico pediu demissão por não concordar com o presidente Jair Bolsonaro em liberar o uso em larga escala da cloroquina em pacientes no estágio inicial da COVID-19.
Mandetta disse ainda que Bolsonaro deverá nomear uma pessoa que não seja médica, "que não tenha muito compromisso e possa acelerar o que ele quer".
"Fica difícil para um médico passar por cima de princípios básicos da ciência", acrescentou Mandetta, que passou por processo de fritura no governo após ganhar protagonismo na crise do coronavírus. Como ministro, ele defendia o isolamento social da população, enquanto Bolsonaro quer que apenas grupos de risco para doença permaneçam em casa.
A saída de Teich repercutiu bastante no cenário político nacional. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que o país estava "à deriva".
Mais um ministro da Saúde, que acredita na ciência, deixa o governo Bolsonaro. No momento em que a curva de mortes pelo coronavírus acelera, o Brasil perde com a saída de Nelson Teich. O barco está à deriva.
— João Doria (@jdoriajr) May 15, 2020
Que Deus proteja o Brasil e os brasileiros. 🙏
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), por sua vez, afirmou que ninguém conseguiria fazer um "trabalho sério" com a "interferência" de Bolsonaro.
Minha solidariedade, ministro @TeichNelson. Presidente Bolsonaro, ninguém vai conseguir fazer um trabalho sério com sua interferência nos ministérios e na Polícia Federal. É por isso que governadores e prefeitos precisam conduzir a crise da pandemia e não o senhor, presidente.
— Wilson Witzel (@wilsonwitzel) May 15, 2020
Já o governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB), disse que as instituições deveriam julgar Bolsonaro pela "produção de tanto desastres".
A confusão que Bolsonaro cria é única no planeta. Espero que as instituições julguem o quanto antes a produção de tantos desastres, entre os quais a demissão de DOIS ministros da Saúde em meio a uma gigantesca crise sanitária. O Brasil merece uma gestão séria e competente.
— Flávio Dino 🇧🇷 (@FlavioDino) May 15, 2020
Vários ex-presidenciáveis também se pronunciaram. Ciro Gomes (PDT) afirmou que Bolsonaro era de "irresponsabilidade assassina".
Parece brincadeira... mas é irresponsabilidade assassina! Bolsonaro provoca demissão do recém nomeado ministro da saúde. Razão alegada: o ministro, que é medico, apesar de toda sua incompetência e patetice, não aceitou promover o genocídio que Bolsonaro parece querer provocar!
— Ciro Gomes (@cirogomes) May 15, 2020
Fernando Haddad (PT), por sua vez, ironizou afirmando que no governo Bolsonaro tanto fazia quem seria o novo ministro da Saúde.
Quem será o próximo ministro da Saúde? Tanto faz, enquanto Bolsonaro estiver presidente.
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) May 15, 2020
João Amôedo (Novo), que declarou voto em Bolsonaro no 2º turno das eleições de 2018, disse que o presidente era "despreparado" e "autoritário".
Bolsonaro demonstra, uma vez mais, seu despreparo para o cargo que ocupa. Sua postura autoritária reflete sua incapacidade de liderar.
— João Amoêdo (@joaoamoedonovo) May 15, 2020
Temos um presidente que coloca em risco a saúde de milhões de brasileiros e a economia do País. Até quando?
O ex-ministro da Justiça Sergio Moro referiu-se à demissão de Teich de forma indireta.
Cenário difícil, em plena pandemia, 13993 mortes até ontem. Números crescentes a cada dia. Cuide-se e cuide dos outros.
— Sergio Moro (@SF_Moro) May 15, 2020
Até mesmo parlamentares do chamado centrão, bloco de partidos que está negociando apoio no Congresso com o governo Bolsonaro, criticou a saída do ministro.
"Saiu quem não tinha entrado. Hoje, o ministro da Saúde, Nelson Teich, pediu exoneração do cargo, mas, não sei se alguém percebeu, já não fazia diferença", disse Paulinho da Força (Solidariedade-SP), segundo matéria do Estadão.
"O Brasil precisa de liderança, mas vai ser difícil encontrar um ministro que seja capaz de lidar, ao mesmo tempo, com a crise sanitária e com os impulsos de Jair Bolsonaro", acrescentou.