Escolhido para substituir o então chefe da pasta, Luiz Henrique Mandetta, que ganhou popularidade por conta dos embates com o presidente Jair Bolsonaro sobre a melhor forma de encarar o surto do novo coronavírus, Teich, oncologista e consultor em saúde, assumiu o ministério sob forte desconfiança de parte da população, que acreditava que ele poderia se submeter mais facilmente aos apelos do chefe de Estado para reabrir as atividades econômicas apesar das recomendações de restrição defendidas pela grande maioria dos especialistas.
Oremos. Força SUS. Ciência. Paciência. Fé! #FicaEmCasa
— Henrique Mandetta (@lhmandetta) May 15, 2020
Em seus primeiros discursos como membro do governo, o ministro não deixou clara sua posição sobre o principal ponto de tensão entre seu antecessor e o presidente, se limitando a defender a produção de mais estudos para conhecer melhor a COVID-19 e suas implicações. No entanto, ao longo de seus 28 dias na chefia da Saúde, acabou optando por resistir à pressão presidencial pela derrubada do isolamento social no país, avaliando que o distanciamento era necessário para conter a disseminação do coronavírus.
Recentemente, o desgaste dessa relação atingiu um novo patamar por conta do uso da cloroquina, medicação amplamente defendida por Bolsonaro como grande arma no combate à pandemia, mas sem respaldo científico e, por isso, não apoiada abertamente pelo ministro.
Na última quinta-feira (14), em reunião com empresários, segundo a Folha, o presidente cobrou mais uma vez uma recomendação do Ministério da Saúde para uso da substância em pacientes em fase inicial de contaminação pelo vírus, mudando, portanto, o atual protocolo, que permite a utilização da mesma em casos críticos. Tal discordância, de acordo com fontes próximas, teria deixado a situação insustentável.
Conselho de Medicina do Brasil libera cloroquina, mas diz que não há evidências de sua eficácia
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) April 23, 2020
© Foto: Reuters / Lindsey Wassonhttps://t.co/dFw2xRwfu7 pic.twitter.com/4BcaXaDkSe
Em nota, o Ministério da Saúde informou que Nelson Teich pediu demissão na manhã desta sexta-feira (15) e que o assunto será tratado em coletiva de imprensa nesta tarde. A pasta será comandada, provisoriamente, pelo secretário-executivo Eduardo Pazuello.
Enquanto o governo se concentra na condução de uma nova crise política em meio à pandemia, os números de vítimas da COVID-19 seguem aumentando significativamente no Brasil, com todos os estados apresentando tendência de piora. Atualmente, o país contabiliza 202.918 casos de pessoas contaminadas pelo novo coronavírus, com 13.993 óbitos confirmados.